Estratégias de coping em estudantes do Ensino Superior
(Etã Costa; Isabel Leal)
Citando diversas personalidades, as autoras descrevem o stress como “a relação que se estabelece entre as situações ou acontecimentos perturbadores e as reacções (sentimentos, pensamentos e comportamentos) do organismo (Costa & Leal, 2006, p. 189), considerando factores como as reacções emocionais e cognitivas próprias dos acontecimentos de vida. Reportando-se a Lazarus e Folkman (1984), explicam que “uma situação é percebida pelo indivíduo como mais ou menos ameaçadora, a partir da avaliação que ele faz dela em função do significado que ela tem para si” (Idem).Os acontecimentos ditos stressantes podem traduzir-se em duas perspectivas (López de Roda, citado por Costa & Leal, 2006, p. 189). A primeira, baseada na mudança, reporta-se a situações objectivas que interferem ou ameaçam interferir com a estabilidade do indivíduo. A segunda perspectiva, baseada no indesejável, reporta-se a acontecimentos não desejáveis para o indivíduo, representando elas as verdadeiras situações de stress. Após uma abordagem aos conceitos de stress e, consequentemente, de acontecimentos stressores, as autoras passam à análise das estratégias face ao conflito gerado pelo acontecimento perturbador – mecanismos de coping. Reportando-se a Sordes-Arder, Fsian, Esparbés e Tap (1996) e ainda Lazarus & Folkman (1984) definem coping como “o termo utilizado para especificar os comportamentos dos organismos diante de processos de stress” (ibidem). Desta conceptualização passam a colocar a tónica no processo de avaliação cognitiva que, tendo em conta as abordagens de Santos e Castro (1998), bem como de Vasco (1985), é o responsável pela análise do significado de um acontecimento e, como tal, pelas diferenças individuais na resposta a situações semelhantes (ibidem).Nestes termos, tanto os mecanismos de avaliação como os de coping influenciam a adaptação do sujeito, sendo o objectivo principal de ambos mitigar os efeitos adversos da situação de stress. As estratégias de coping só se revestem de eficácia quando permitem ao sujeito reduzir a tensão com vista a adaptabilidade a uma situação específica (Martins, s/d; Aldwin, 1994; Vinay, Esparbès-Pistre & Tap, 2000, referenciados por Costa & Leal, 2006, p. 190). Esta é a pedra-de-toque para a passagem a alguns mecanismos de coping, os quais são conceptualizados pelas investigadoras.Para enquadrarem os mecanismos de coping no ensino superior, Costa e Leal referem o ingresso neste ensino como revestindo-se de um conjunto de mudanças que podem aumentar a vulnerabilidade a potenciais perigos (Joyce-Moniz, 1999, referenciado por Costa & Leal, 2006, p. 191). Estas mudanças requerem ajustes por parte do aluno, sendo o apoio dos pares, da família e dos professores decisivo em todo o processo (Machado & Almeida, 2000, mencionados por Costa & Leal, 2006, p. 191). Neste sentido, é salientado o valor da percepção da disponibilidade do suporte social dada a sua função protectora das influências do stress na saúde (Kaplan, Sallis & Patterson, 1993; Hobfoll, Banerjee & Britton, 1994; Pierce, Sarason & Sarason, 1996, mencionados por Costa & Leal, 2006, p. 191). Após a abordagem de contextualização da temática as investigadoras passam ao estudo que efectuaram: um “estudo exploratório descritivo transversal” com o objectivo de estudar as estratégias de coping mais frequentes por parte dos alunos do segundo ano (amostra=401) das diferentes licenciaturas das instituições superiores de Viseu, tendo em conta as variantes sexo, opção de curso, estatuto de mobilidade e área de estudos. Os dados obtidos revelam diferentes estratégias de coping entre os grupos estudados.No que respeita às diferenças entre sexo, nas estudantes prevalece a subescala de Suporte Social, enquanto nos estudantes sobressai a Distracção e Recusa, assim como a Conversão e Adictividade. Em relação ao facto de o curso ser ou não a primeira escolha são encontradas diferenças na subescala Retraimento, mais prevalente em alunos cujo curso não foi a primeira opção (embora tal se verifique em todas as subescalas à excepção da de Suporte Social). No que se refere ao estatuto de mobilidade as subescalas Retraimento, Distracção e Recusa, bem como Conversão e Adictividade obtêm maior preponderância nos estudantes deslocados, o que não acontece com o Controlo. A estratégia de Suporte Social tem igual manifestação entre os dois grupos. No que concerne à área de estudo, verifica-se que a estratégia Suporte Social é mais frequente nos alunos de Nutrição e Enfermagem e menos comum nos estudantes de Economia e Gestão (que usam mais comummente Conversão e Adictividade). As autoras salientam a necessidade de maior investigação com alunos deslocados, dado que factores culturais e religiosos poderão concorrer para a maior ou menor avaliação de uma situação como stressante.Bibliografia:Costa, E. S., & Leal, I.P. (2006). Estratégias de coping em estudantes do Ensino Superior. Análise Psicológica, 2 (XXIV), 189-199.
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