Sentimento/Complexo de Inferioridade
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Inicialmente, no estudo da Psicanálise, Adler definiu o sentimento de inferioridade como sendo algo baseado no real, como um defeito orgânico, efetivo. Para ele, no complexo de inferioridade, o indivíduo procuraria compensar a sua deficiência física frente aos outros, quer agredindo, defendendo-se, isolando-se ou lutando, para superar a deficiência física através do uso de um mecanismo de compensação. Já segundo Freud, o sentimento de inferioridade não está unicamente relacionado com um defeito orgânico (físico). Deve ser compreendido e interpretado como um sintoma, ligado a uma insegurança múltipla (psíquica + física) e a introjeção de uma auto-percepção depreciativa e deficiente de si mesmo, frente à vida e aos outros.
A expressão "sentimento de inferioridade" tem, na literatura psicanalítica, uma ressonância adleriana. A teoria de Adler tenta explicar as neuroses, as afecções mentais e, de um modo mais geral, a formação da personalidade por reações a inferioridades orgânicas, por mínimas que possam ser, morfológicas ou funcionais, surgidas na infância. "Os defeitos constitucionais e outros estados análogos da infância dão origem a um sentimento de inferioridade que exige uma compensação, no sentido de uma exaltação do sentimento de personalidade".
Por diversas vezes Freud mostrou o caráter parcial e insuficiente destas concepções de Adler: "Quer um homem seja homossexual ou necrófilo, um histérico que sofra de angústia, um obsessivo encerrado na sua neurose ou um louco furioso, em todos os casos o adepto da psicologia individual de inspiração adleriana pretenderá que o motivo que determina o seu estado é o fato de ele querer fazer-se valer, super compensar a sua inferioridade física", o que é um absurdo. Embora esta teoria das neuroses não seja aceitável do ponto de vista moderno, isto não implica que a psicanálise recuse a importância ou a frequencia do sentimento de inferioridade física, ou ainda a sua função no encadeamento das motivações psicológicas. Sobre sua origem, Freud, sem tratar da questão de forma sistemática, forneceu algumas indicações; o sentimento de inferioridade psíquica viria corresponder a danos reais ou fantasísticos, que a criança pode sofrer ou imagina - perda de amor, perda de segurança e reconhecimento, deficiência física e abandono. "Uma criança sente-se inferior se nota que não é amada, e acontece o mesmo com o adulto".
Estruturalmente, o sentimento de inferioridade psíquica traduziria a tensão entre o ego e o superego, que o condena na busca de uma perfeição moral idealizada (ideal de ego) ou a frustração por não corresponder ao padrão estabelecido no seu ego ideal (ser bonito, inteligente, atleta, etc.). Esta explicação sublinha o parentesco entre o sentimento de inferioridade, a frustração e o sentimento de culpa, mas torna difícil a sua delimitação. D. Lagache fez depender o sentimento de culpa do sistema "superego - ideal de ego" e o sentimento de inferioridade às cobranças do ego ideal (manifestação de vaidade, perfeição estética, intelectual, física e etc.).
O complexo de inferioridade é uma expressão que também tem sua origem na psicologia adleriana. Designa, de um modo geral, o conjunto das atitudes decorrentes das representações psíquicas, que são expressões mais ou menos disfarçadas de um sentimento de incapacidade, de menos valia, de inferioridade ou das reações destes sentimentos perante a vida de relação.
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