Trote nas universidades
(Revista Veja)
Antes de qualquer coisa, minha posição pessoal: sou contra o trote, assim como sou contra outros costumes que, para muitos, ainda são normais, tais como a briga de galos (e de quaisquer outros animais) para deleite e apostas e a humilhação (midiática ou não) de criminosos confessos ou suspeitos de crimes, sem falar da pena de morte. Esses são alguns exemplos de “rituais” humanos que continuam sendo realizados sem o questionamento de suas genealogias e razões. Das origens, dos fundamentos e de fatos em torno do trote no Brasil é que trata a matéria “Trote, uma prática medieval que desafia as universidades” (Revista Veja, 11/02/2011). A matéria começa com a indicação de que as universidades brasileiras têm tentado implantar programas de "boas-vindas aos calouros", mas que não têm conseguido proibir agressões e humilhações. Como um grande passo em direção a uma sociedade menos dogmática e teocrática, foi na Idade Média, na Europa, que surgiram as primeiras universidades e, com elas, o trote. Desde o início, os calouros eram obrigados às humilhações e violências que se tem notícia ainda hoje, com a indicação de que “poderiam se vingar nos novatos do ano seguinte”, mantendo um ciclo vicioso de repasse da repressão exercida pelos professores rigorosos de então. Nesses 800 anos, parece que essa relação insana não evoluiu muito, mesmo com tantas outras mudanças no próprio sistema educacional como um todo. A frouxidão com que essa questão é, em geral, tratada no Brasil e também nos Estados Unidos, tem um contraponto na França, onde, desde 1998, vigora uma lei que torna crime o trote violento. Aos poucos, naquele país, a violência tem sido substituída por festas, gincanas e atividades socioculturais dentro e fora da universidade, o que, para mim, deve ser a verdadeira natureza da recepção aos novos estudantes. A matéria termina de forma categórica: “Está claro, contudo, que, em pleno século XXI, esse ritual não pode reproduzir a face obscura do século XIV”. E concluo eu com a hipótese de que o trote é liderado hoje por indivíduos que encontram na realização desse rito de passagem uma oportunidade para deixar aflorarem seus instintos mais pervertidos e patológicos.
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