"COMO MORRE UMA DITADURA" – (Moisés Nain – Jornal El Pais – 13/01/2011) é uma análise sobre a onda de mudanças no mundo árabe. O autor do artigo inicia perguntando: - Por que o Egito e não o Marrocos? – Por que na China continua mandando o Partido Comunista, mas a antiga União Soviética afundou? – Por que Fidel Castro tem sobrevivido no poder enquanto Augusto Pinochet não?
As razões são várias e diferentes para que umas ditaduras se perpetuem e outras não. Há ditaduras totalitárias e repressivas. Outras são “ditabrandas” que se fazem passar por democracias: organizam eleições que sempre ganham, toleram uma oposição fraca e permitem a existência de uma imprensa “livre” que poucos lêem. Muitas vezes são sustentadas por potências estrangeiras. Ex. Arábia Saudita depende dos EEUU; Bielo Rússia depende da Rússia; Coréia do Norte, da China. A cultura e a religião também fortalecem as monarquias despóticas. Mas quando um povo cansa e sai às ruas disposto a morrer pela liberdade – e o Exército não o massacra – não há cultura, história ou religião, ou potência estrangeira que salve um ditador.
Qual a causa? – Diversas:
1- As mudanças econômicas, sociais ou institucionais podem acionar o fim das ditaduras. Mesmo países como a União Soviética ao liberar a economia, o regime começou a se esfacelar. O Irã fez reformas muito rápidas para o povo que não acompanhou as novidades e caiu. A China ao refrear a velocidade do crescimento pode ter o regime ameaçado.
2- A velhice do regime em desacordo com os novos tempos e a velhice do mandatário como, por exemplo, o que ocorreu no Egito com a deposição de Murabac.
3- Luta pelo “botín” – quando há ruptura entre as elites no poder e não entre o povo e o governo. As lutas de interesses internos rompem o equilíbrio levando ao fim de um governo – o caso da Tunísia.
4-Os erros cometidos pelos governantes - por estarem rodeados de aduladores cria-se um ambiente artificial, onde o medo de criticar o governante leva a desastres. Ex. Sadam Hussein no Iraque, o general Gualtieri na Argentina ao achar boa a idéia de invadir as Ilhas Malvinas que resultou em derrota e perda do poder.
5-Contágio – o que ocorre num país vizinho se propaga pelos países vizinhos – ex: Portugal e Espanha; os países do cone sul da América; Tunísia e Egito, etc. O fim de uma tirania alimenta esperanças a outros povos.
6-A informação – atualmente os meios de comunicação rápida levam ao povo a informação sobre a corrupção das autoridades e traz notícias de como se vive em outros países, formando opinião e informando o povo, o que se constitui numa dor de cabeça para os autocratas.
Há muitos outros fatores em jogo. Muitas ditaduras sobrevivem apesar de tudo. Mas há sempre um fator determinante e pouco previsível – são os militares. Todas as tiranias dependem deles. Às vezes eles estão a serviço da tirania. Mas, há outros casos em que eles decidem defender a Pátria e não o regime. Quando eles se negam a atirar contra os compatriotas, nasce a liberdade. (
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