Formação da literatura brasileira
(Antonio Candido)
O livro Formação da literatura brasileira, de Antonio Candido (Rio de Janeiro: Ouro sobre o azul, 2006. 800 p.), é fundamentalmente, para a crítica dominante, a análise de dois movimentos ou períodos literários brasileiros: o Arcadismo e o Romantismo, que são tomados pelo autor como marcos da constituição do que ele chama de “sistema literário”. Esse sistema trata da articulação de autores, obras e públicos (a famosa tríade interativa "autor-obra-público") de modo a criar o que se pode chamar de tradição, que, por sua vez, promove a continuidade, que oferece à produção literária a característica de permanente atividade, em associação com outros elementos culturais. Segundo boa parte de sua fortuna crítica, essa maneira de analisar é diferente daquela proposta pela historiografia tradicional, pois toma como critério de classificação literária a formação da literatura como prática regular no seio da sociedade, não como representação de algum tipo de sentimento nacional, como a produção romântica, por exemplo.Publicado pela primeira vez 1959, um dos pressupostos centrais de Formação da literatura brasileira é o de que a literatura é principalmente, mais do que um painel de autores ou fatores, um conjunto de obras. Para reiterar, nessa obra, o sistema literário do Brasil, compreendido como a interação autor-obra-público, tem sua definição entre 1750 e 1880, na interface do arcadismo com o romantismo e o processo de independência do país. O auge desse processo de formação é o aparecimento de um autor do porte de Machado de Assis, em quem essa formação se consolida. Ao modo de Harold Bloom (ou Harold Bloom fez ao modo de Antonio Candido?), em O cânone ocidental, que coloca Shakespeare como ponto culminante da literatura no Ocidente, Machado de Assis é nosso cume, pois participava de uma linhagem com outros autores brasileiros, ainda que “menores”, como seus precursores para a construção de sua obra. É um sistema de regularidades, em que se integram autores locais vivos e mortos, em que pesem as influências estrangeiras, que foram assimiladas. De fato, para Antonio Candido, Machado pode florecer porque já havia sido formado um sistema de literatura nacional. Nesse sentido, a grande sacada de inovação em Formação da Literatura Brasileira é a apresentação tanto da literatura nacional quanto do próprio país como processos, ou seja, não como entes prontos ou dados. Apesar de manter certa noção de déficit literário (apenas um ramo de Portugal em formação), pois, em Formação da Literatura Brasileira, Antonio Candido estabelece a tese de que nossa literatura está situada num patamar menor em relação às principais matrizes do cânone ocidental, com certa incapacidade de estabelecer continuidade de grande valor estético, já ali surgia a possibilidade de articulação entre sociedade e literatura, que foi uma de suas principais contribuições. De qualquer modo, essa noção de déficit, que é muito severa, deve ser questionada na contemporaneidade, vez que, seja no âmbito artístico-literário, seja em seu aspecto comercial, a produção literária brasileira, em sua efetiva rede entre escritores, editores, obras, mídia e leitores, é suficientemente apta a representar a cultura brasileira no cenário global.Apesar das novas abordagens trazidas pelo pós-moderno e pelo pós-colonial, entre outros pós-, Formação da Literatura Brasileira continua sendo um dos principais modelos aplicados para se analisar o conjunto histórico da literatura do Brasil e no Brasil. Especialmente porque sua concepção de sistema literário, como indica o texto de apresentação no site da editora (link abaixo) “é a moldura, não o essencial do livro, embora tenha sido o que chamou a atenção dos críticos. O essencial é o estudo analítico das obras, que o autor procura abordar em leituras renovadoras para o momento em que o livro foi preparado e redigido, isto é, de 1945 a 1957”. Leitura recomendada, se não obrigatória, para todos os estudantes, estudiosos e praticantes da arte literária brasileira e ocidental.CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira (volume único). Rio de Janeiro: Ouro sobre o azul, 2006. 800 p.
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