O Nascimento da Inteligência na Criança
(Jean Piaget)
Análise da obra de Jean Piaget - Parte 1
1. INTRODUÇÃO
Em O Nascimento da Inteligência na Criança, o autor estuda a forma dos esquemas sensório-motores e o mecanismo de assimilação mental.
Segundo Piaget, a inteligência não aparece, de modo algum, num determinado momento do desenvolvimento mental, como um mecanismo inteiramente montado, e radicalmente distinto do que o precederam [...] Portanto, antes de analisarmos a inteligência como tal, convêm averiguar como o nascimento dos hábitos e mesmo como o exercício dos reflexos preparam o advento daquela. (p. 31) Tal como defini-la, não parece ser tarefa fácil. Assim, pode dizer-se que a inteligência constitui o estado de equilíbrio para o qual tendem todas as adaptações sucessivas de ordem sensorial-motora e cognitiva, assim como todas as trocas assimiladoras e acomodatórias entre o organismo e o meio.
A inteligência reflectida repousa na inteligência prática ou sensorial-motora, que se apoia em hábitos e associações que são adquiridos para se voltarem a combinar. Estas associações pressupõem, por outro lado, um sistema de reflexos cuja relação com a estrutura anatómica e morfológica do organismo é evidente. Verifica-se, assim, uma continuidade entre a inteligência e os processos puramente biológicos de morfogenese e de adaptação ao meio. Logo, há certos factores hereditários que condicionam o desenvolvimento intelectual (como o sistema nervoso e órgãos sensoriais e o facto de a inteligência não poder aprender qualquer dado exterior sem certas funções de coerência, de relacionamento que são comuns a todas as organizações intelectuais.).
Encontram-se, no início da obra e, segundo o autor, alguns problemas biológicos da inteligência: o problema entre a razão e a organização; em apurar como as invariáveis vão determinar as categorias da razão, em examinar como as estruturas hereditárias preparam a adaptação e até que ponto as teorias biológicas da adaptação são susceptíveis de esclarecer a teoria da inteligência, entre outros.
No começo da evolução mental, a adaptação intelectual é mais restrita que a adaptação biológica. No desenvolvimento mental, existem elementos variáveis e invariáveis. São, a partir dos invariáveis que surgem os elementos biológicos mais genéricos, como a adaptação e a organização.
A primeira consiste na teoria da equilibração entre a assimilação e a acomodação. A segunda, do ponto de vista biológico, é inseparável da adaptação: a concordância do pensamento com as coisas e a concordância do pensamento consigo mesmo exprimem essa dupla invariante funcional da adaptação e da organização. Ora, esses dois aspectos são indissociáveis: é adaptando-se às coisas que o pensamento se organiza e é organizando-se que estrutura as coisas (p. 19). Do ponto de vista psicológico, a organização é uma função reguladora, isto é, as categorias a ela relativas, as “categorias fundamentais” podem ser definidas, do ponto de vista estático, pelas noções de totalidade e de relação e do ponto de vista dinâmico, pelas de ideal e valor.
Para explicar esse mesmo desenvolvimento, o autor partiu da ideia que os actos biológicos são actos de adaptação ao meio físico e de organização ao meio ambiente, sempre procurando manter um equilíbrio. Do ponto de vista biológico, organização é inseparável da adaptação: são os dois processos complementares de um único mecanismo, sendo que o primeiro é o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação constitui o aspecto externo. (p. 18).
É necessário mencionar, por fim, que Jean Piaget apoiou-se principalmente na observação de crianças, especificamente dos seus filhos, Laureant e Jacqueline, para a concretização das teorias analisadas, tanto neste livro, como ao longo da sua extensa obra.
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