Bruna Surfistinha - Critica
(Marcelo Hessel)
Direção: Marcus Baldini
Roteiro: José de Carvalho, Homero Olivetto, Antônia Pellegrino
Elenco: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Guta Ruiz, Fabiula Nascimento, Cristina Lago
Deborah Secco atua no limite da caricatura para demarcar a transformação física da sua personagem em mutações que têm o sexo como catalisador.
No longa adaptado do livro “ O doce veneno do escorpião”, a história da prostituta que decidiu usar um blog para narrar o seu dia a dia de trabalho - Raquel Pacheco se transforma rapidamente em Bruna Surfistinha. No livro, o passado de adolescente e o presente de prostituta se intercalam; no filme, os dias que antecedem a fuga da casa dos pais são postos em segundo plano.
Deborah surge primeiro como Raquel, a adolescente tímida, de moletons folgados, com o cabelo cobrindo o rosto, quase uma ogra. Meses depois, já sob o nome de guerra, quando começa a ganhar fama entre os clientes onde trabalha, a câmera do diretor trabalha com um contraluz leitoso para banhar o desabrochar da mulher. Deborah corrige a postura e sorri, usando os últimos traços da timidez de Raquel para compor a persona lolita, mas que de criança já não tem mais nada.
Acompanhar como Deborah reage a essas transformações é o foco da atenção do diretor. Muita gente diz que é um filme que não tem medo da nudez e do impacto. Estranho seria se fosse recatado. Se o interesse maior de Baldini é pelos corpos, então desnudá-los é a única opção. E o filme tem um desfile deles: baixos, altos, gordos, magros, de frente, de costas - todos sempre colocados à comparação com o corpo de Deborah Secco.
Inicialmente, a exposição do corpo da atriz é uma provocação ao espectador que ela encara nos olhos durante um close-up, na cena do primeiro programa de Bruna. Aos poucos, porém, essa opção de se concentrar na mulher-objeto, vai minando o potencial do filme, especialmente se comparado com o livro.
Procurando uma simplificação, os roteiristas criam uma Raquel menos complexa que aquela do diário. Em O Doce Veneno do Escorpião conhecemos uma adolescente bem nascida e cleptomaníaca, que usa roupas da moda e parece tratar o sexo como rebeldia. No filme, nas poucas cenas do "passado", Raquel tem dinheiro negado pelo pai, não sai à noite e, quando rouba, o roteiro a perdoa: é por questão de vingança e não compulsão.
A vitimização da personagem se estende ao presente. No livro, Raquel rouba um colar da mãe e vende para "comprar coisas". No filme, Bruna tira o colar da mãe, mas quem revende é outra prostituta. Outro exemplo: no livro, Bruna dá a entender que deixou o privê onde trabalhava porque quis; no filme, ela sai martirizada, expulsa por assumir uma culpa que não teve.
Ao retratar Raquel Pacheco como a garota oprimida que venceu na vida com um golpe de marketing, o filme acredita valorizar a independência dela como mulher e como profissional. Na verdade, acaba reforçando uma imagem de fragilidade e frivolidade que tem, ironicamente, muito de machista.
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