A Integração Europeia e a Construção da Democracia Portuguesa
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O declínio da hegemonia mundial repartida entre os Estados Unidos e a União Soviética tornara-se um facto no final dos anos 70: A derrota no Vietname, a crescente dificuldade de resolverem conflitos por si próprios, o aumento da dívida pública bem como o défice no orçamento e os vários problemas internos tornavam cada vez mais difícil para os Estados Unidos o desempenho de um papel relevante a nível global.
Na União Soviética, o declínio é ainda mais evidente a partir dos anos 70 com a estagnação geral sentida nas últimas duas décadas do império soviético. O desmoronamento da cortina de ferro tornou-se por demais evidente em vários países da Europa de Leste (em particular a Polónia e a Roménia) através do uso cada vez maior de facilidades de crédito ocidentais para financiar reformas económicas.
Este cenário terá conduzido ao aparecimento de novos tipos de acordos de segurança e económicos, que existiam já, embora sob uma forma imperfeita, antes dos anos 70. Essa emergência de novos tipos de acordos económicos e políticos e de segurança regional fornecia um contrapeso importante ao declínio das super potências.
Após os meados dos anos 70 a Comunidade Europeia/União Europeia terá surgido como o novo modelo para um sistema mundial moderno diferente, fundado em novos acordos dependentes das pretensões dos seus membros.
A Comunidade Europeia/União Europeia é uma resposta, consciente ou inconsciente, a estas mudanças na estrutura económica, ideológica e militar do sistema mundial moderno. A transformação dos modos, organização, carácter e ritmo da produção foi acompanhada por uma grande reestruturação dos mercados financeiros. A globalização conduziu a uma transformação do Estado-Providência num estado competitivo que deve criar uma economia menos rígida para as empresas, de forma a que as grandes companhias nacionais e transnacionais possam competir num nível mundial.
Em termos políticos observa-se uma transformação continuada dos partidos e sistemas partidários em direcção a uma estrutura económica mais competitiva do campo eleitoral e uma maior heterogeneidade das organizações partidárias. Em termos de estrutura social observa-se uma estrutura mais flexível com a individualização, o consumismo e uma pluralidade de estilos de vida a parecem ser as características principais da política pós-moderna.
A Revolução Portuguesa de 25 de Abril de 1974 trouxe o País para o palco central da política internacional. Durante um ano e meio Portugal tornou-se um elemento instável na organização bipolar da política mundial. A relação entre a integração europeia e a construção da democracia portuguesa deve ser vista neste contexto de transformações incertas no palco internacional. A construção simultânea de dois sistemas converge assim para uma lógica de vários níveis e o impacto da Comunidade Europeia/União Europeia em Portugal é não unilateral, mas bilateral.
O final do sec.XX foi uma época de intenso dinamismo tanto em Portugal como na Comunidade Europeia/União Europeia. Embora seguindo lógicas próprias, a democratização foi um denominador comum a ambos os sistemas políticos: Em 1974 a Comunidade Europeia representava uma comunidade de países democráticos da Europa ocidental, embora não sendo completamente democrática, e Portugal era um país autoritário patrimonialista.
A firmeza das exigências da CE feitas aos governos portugueses para o estabelecimento de uma democracia pluralista como condição base para Portugal aderir à CE, levou a um acordo constitucional que reflecte essa necessidade de adaptação à Europa ocidental e foi a pedra de toque das negociações até em 1986 Portugal ver consolidadas as suas frágeis estruturas democráticas, superando os comportamentos herdados do regime anterior, e ter uma economia estabilizada. A partir de então, Portugal empenha-se num processo de adequação às regras comunitárias e de integração nas estruturas decisórias da CE que culmina em 1992 com a incumbência da presidência da CE.
Simultaneamente, com o objectivo de integrar os vários tratados num todo coerente, em 1986 foi dado o primeiro passo nesse sentido com o Acto Único Europeu , e em 1992 a CE transforma-se na União Europeia .
Segundo José Magone, existe uma transformação da entidade política europeia em paralelo com a europeização dos sistemas políticos nacionais, e em particular de Portugal, num processo de dupla convergência: A transformação da entidade política europeia está relacionada com a transformação e convergência de sistemas políticos no que têm de semelhante e com a aproximação no que têm de diferente.
Em termos de politica externa, podemos concluir que neste período da história o mais importante já não são as colónias, que no entretanto foram descolonizadas com a revolução de 25 de Abril de 1974; nem a Aliança Inglesa, que foi perdendo a importância á medida que os anos passam, mas sim as relações multilaterais com a Europa, desde adesão á CEE . Portugal descobre assim a natureza utópica da UE, e torna-se um modelo para uma democratização sustentada e continuada da UE. Hoje em dia as relações da política externa portuguesa são essencialmente no âmbito da União Europeia, com a NATO e com a CPLP.
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