A relação da família e da escola com a criança sobredotada
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Ellen Winner refere que não é verdade que a criança sobredotada seja pressionada por os pais serem demasiado ambiciosos. Ela acredita que as crianças cujos pais as obrigam a alcançarem bons resultados desde muito cedo, podem tornar-se adolescentes revoltados, desocupados e deprimidos, que perdem todo o interesse no seu desempenho futuro. No entanto, Winner chama a atenção para o facto de este ponto de vista apenas reflectir as baixas expectativas que, às vezes, se tem em relação às crianças, fazendo com que, por vezes, as crianças sobredotadas percam o interesse no seu domínio de talento. Mas esta situação também se pode verificar devido a outros motivos, não apenas devido a uma pressão parental elevada (Winner, 1996).
O estudo de Hackney demonstrou que uma das primeiras dificuldades que os pais de crianças sobredotadas experimentam é o distinguir quais são os papéis dos pais e quais são os dos filhos. Os problemas centram-se em determinar se a criança deve ser tratada da mesma forma que as outras crianças ou como um adulto. O sentimento mais comum entre os pais é a ansiedade de ter um filho diferente e não saber como tratá-lo, provocando uma falta de recursos e um certo complexo neles (Fernandes e et all, s/d).
Em relação à existência de irmãos de crianças sobredotadas, provou-se que estes irmãos têm mais problemas emocionais e sociais do que os irmãos de famílias onde não existe nenhuma criança sobredotada. Cornell refere que os irmãos mostram indicadores de insegurança e baixa auto-estima em medidas de personalidade, ou seja, os irmãos, normalmente, têm sentimentos de inferioridade em relação ao irmão sobredotado (Fernandes e et all, s/d).
A família é realmente muito importante para a criança sobredotada, pois ela contribui não só para o desenvolvimento global da personalidade da criança, com também para aspectos mais concretos, como o pensamento, a linguagem, os afectos, etc. É essencial, deste modo, que a criança se desenvolva num ambiente familiar enriquecido, apesar de que também há crianças sobredotadas que se desenvolvem em famílias com poucos capitais (quer económicos, sociais ou culturais) (Fernandes e et all, s/d).
Os alunos sobredotados começam a vida escolar desejosos de novas experiências, conhecimentos e desafios, estando prontos para progredir e para desenvolver rapidamente aquisições importantes. Quando isto não acontece, estes alunos sentem-se frustados, aborrecidos e desinteressados pelas actividades escolares. Deste modo, é importante que o professor consiga identifcar os alunos sobredotados através de determinados indicadores comportamentais (por exemplo, através da utilização de uma linguagem mais precisa e complexa, da natureza das perguntas formuladas pelo aluno, da profundidade dos conhecimentos, da persistência em concretizar alguma tarefa, do juízo crítico, etc), possa conhecer as nescessidades desses alunos, possa adaptar as suas práticas às necessidades dos alunos, podendo também avaliar se as metodologias escolhidas contribuem para o crescimento efectivo dos alunos sobredotados (Pocinho, 2009).
O aluno sobredotado tem um conjunto de necessidades psicológicas, como a necessidade de um sentimento geral de sucesso num ambiente intelectual estimulante, flexibilidade nos tempos atribuídos para a realização das tarefas, clima de participação e partilha de responsabilidades, necessitam também de um suporte emocional para o fracasso, entre muitas outras (Pocinho, 2009).
Relativamente a necessidades sociais, o professor deve estimular a participação do aluno em actividades de grupo, clarificar e discutir regras de conduta e as consequências da sua violação, estimular os exercícios de dinâmica de grupo, etc.
No âmbito educativo, o aluno também deve ter a oportunidade de desenvolver e partilhar os seus interesses e competências, de desenvolver a expressão criativa, de utilizarem as suas competências na resolução de problemas, efectuar investigações, entre muitos outros aspectos relacionados com as necessidades cognitivas (Pocinho, 2009).
Dias refere que a ausênsia de condições adequadas na escola para responder às necessidades das crianças sobredotadas, leva a algumas dificuldades, pois estas crianças têm tendência a evitar a escola, perturbar a aula, ou seja, a sentirem-se desintegradas (Pocinho, 2009).
Muitas vezes verifica-se o insucesso das crianças sobredotadas e neste sentido, Freeman diz-nos que a “instabilidade emocional, insuficiente apoio educacional ou a pressão para estar em conformidade com o resto da turma, e ainda o aborrecimento em estar na escola são factores contributivos deste insucesso” (Simonetti, 2008).
Mas, se pelo contrário, as crianças sobredotadas forem estimuladas e incentivadas, aprendem depressa, apresentam um vocabulário extenso e uma boa capacidade de atenção e de memorização, sensibilidade, energia elevada, um excelente sentido de humor, entre muitos outros (Simonetti, 2008).
Ao nível das suas necessidades sociais, estes alunos têm preferência pelo trabalho individual, pela participação social desajustada com os pares, parecendo intolerantes e dominadores, necessitando também de oportunidades que lhes permitam pensar a níveis conceptuais elaborados, produzir trabalhos diferentes do habitual, etc (Simonetti, 2008).
Para que não hajam frustações nem aborrecimentos por parte das crianças sobredotadas, Renzulli propôs um modelo de instrução para o sobredotado onde destacam três tipos de actividades de enriquecimento (Simonetti, 2008):
1) Experiências exploratórias que irão permitir classificar os interesses e competências dos alunos (visitas a museus, laboratórios, bibliotecas);
2) Actividades de aprendizagem em grupo que ajudarão o aluno a lidar de uma forma mais afectiva com os conteúdos a aprender;Projectos desenvolvidos a nível individual ou grupal com o objectivo de investigar problemas reais.
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