Durante muito tempo, várias foram as concepções acerca da linguagem introduzidas pelos teóricos da linguística. Em uma dessas maneiras de conceber a linguagem e sua função comunicativa, percebeu-se a língua como um conjunto de signos que se combinam em códigos convencionalmente preestabelecidos, no mero intuito de transmitir informações de um emissor a um receptor, sem considerar os participantes do enunciado e a situação de uso, retirando os indivíduos falantes do processo de produção comunicativo, transformando, a linguagem apenas em um instrumento objetivo para a comunicação.
Para representar a necessidade real do todo da comunicação verbal, foi preciso conceber a linguagem como um processo interatitvo e dinâmico, que ocupasse o lugar de ocorrência da interação comunicativa humana e representasse a sua verdadeira substância constituitiva e fundamental que é interação verbal, realizada pela enunciação. Agora, a língua possui um caráter ativo de realizar ações e causar reações sobre o interlocutor, excedendo os limites da mera tradução e exteriorização do pensamento.
Para Bakhtin (1992) a linguagem constitui-se como o local de produção social em que a ideologia se manifesta e a realidade é instaurada. A Linguagem, caracteriza-se portanto, no discurso com a articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos.
Na perspectiva Bakhtiniana, o enunciado representa a unidade da comunicação verbal, que possibilita o tratamento da linguagem partindo-se de uma visão dinâmica e ativa de interlocução real entre os integrantes do processo discursivo. Nesse sentido, não existe para Bakthin, um esquema simplista de processo ativo e passivo atribuídos à fala do locutor e de percepção e compreensão dessa fala pelo ouvinte, respectivamente, pois toda a enunciação envolve a construção de algo que se forma desde o início do discurso, antes mesmo de se pronunciar alguma palavra e condiz à um ato de linguagem que exige que o interlocutor elabore e transmita uma atitude responsiva ativa de anuência, adesão, discordância ou de execução em atos.
Considerado como a unidade da comunicação verbal, o enunciado possui uma estrutura própria e particular e que pode ser definida, basicamente, nas características marcantes de relação com o autor e os outros parceiros discursivos, na alternância dos sujeitos falantes e no seu acabamento específico.
A relação direta do enunciado com o autor e outros parceiros do processo discursivo, consiste em uma ligação que remete a um parceiro ou adversário.
A característica enunciativa de alternância dos sujeitos falantes, representa a particularidade do enunciado que o diferencia da oração, unidade da língua, e delimita as fronteiras da unidade da comunicação verbal, pois todo e qualquer enunciado possui um começo e um fim determinados, ou seja, o locutor termina o seu enunciado e passa a palavra ao outro participante do discurso ou abre espaço para a compreensão responsiva ativa e posterior posição do interlocutor.
Quanto à particularidade enunciativa do acabamento específico ou totalidade acabada do enunciado, considera-se que seja a alternância dos sujeitos falantes vista por uma perspectiva interior, devido ao fato de o locutor comunicar através da fala ou escrita exatamente tudo o que queria. É necessário que ocorra o acabamento do enunciado para tornar possível a reação à esse enunciado.
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