Resumo de O lugar da leitura na escola

A leitura é algo de que o sujeito não somente pode, mas, sobretudo, deve desfrutar. Considerada como uma produção cultural da humanidade, a língua escrita é necessariamente um bem do qual todos os homens têm o direito de usufruir. Nesse sentido, a escola é um espaço privilegiado para que tanto a leitura como a escrita se democratize e para que todos os sujeitos possam delas se tornar usuários, especialmente aqueles que a elas não tiveram acesso no percurso ou idade escolar regular. Entretanto, a escola tem apresentado inúmeras dificuldades em dar conta desse que é um de seus maiores desafios: o ensinar a ler.
Como afirmam Bins et al. (2009, p.80), em suas análises acerca das possibilidades de leitura na EJA:
“A escola, ainda hoje, parece não ter suficientemente clara essa relação entre o ler e o escrever (...). Por isso, trazê-la para ser discutida, analisada, refletida e debatida nos contextos educacionais da EJA representa uma contribuição significativa para o processo pedagógico, na medida em que a apropriação dos professores acerca de conhecimentos tão específicos, que se projetam diretamente na forma de ensinar e de entender como se dá a aprendizagem do aluno, é condição necessária para a urgente melhoria das práticas docentes em termos da formação dos alunos como leitores e escritores”

De acordo com o contexto e especificidade da EJA, a escola não pode esquecer que o jovem e adulto é, na maioria das vezes, fundamentalmente um trabalhador, às vezes em condições de subemprego ou mesmo desemprego, e que está submetido a circunstâncias de mobilidade no serviço, alternâncias de turnos de jornada de trabalho, cansaço, etc.
Portanto, deve-se levar em conta a diversidade destes grupos sociais, como seu perfil sócio-econômico, étnico, de gênero e de localização espacial. Sendo assim, requer pluralismo, tolerância e solidariedade na sua promoção, na oportunidade de espaços e na alocação de recursos.
A leitura e a escrita estão presentes em nosso cotidiano de forma articulada. Uma contribui para o desenvolvimento da outra. Diante disso uma das principais tarefas da escola seria fazer com que todos os educandos tivessem o conhecimento e domínio das múltiplas funções da linguagem, a qual possui diferentes manifestações e tem por objetivo a ação da comunicação entre as pessoas.
A capacidade de leitura e compreensão de textos com autonomia é indispensável para acompanhar os constantes e rápidos avanços do conhecimento, pois essa habilidade possibilita um exercício profissional competente, sendo, portanto, condição necessária e pertinente para o indivíduo que deseja ter participação ativa nas diversas esferas de atividade da vida em sociedade.
Logo, isso nos obriga a aceitar que compete à escola, espaço difusor de conhecimento e saberes, seja qual for o estágio do percurso do aprendizado, empenhar-se para melhorar cada vez mais o desempenho do aluno nas atividades de leitura, compreensão e produção de textos. As divergências surgem principalmente quando se põem em discussão as competências consideradas necessárias para atingi-lo.
Desse modo, a escola em seus objetivos na ampliação dessas diferentes habilidades deve legitimar seu papel na promoção contínua das competências para o aprender e na função de extensão dessas competências, desenvolvendo-as ainda mais, acrescentando a elas outras ainda não alcançadas, representando efetivamente o lugar pertinente à aprendizagem.
Paulo Freire (1983) destaca a importância dessa necessidade de apropriação de uma concepção escolar de formação discente voltada para a viabilização do ato de ler para a construção de uma competência leitora quando afirma:

“O que se pretende é formar jovens e adultos leitores, que gostem de ler e que possam usufruir do mundo da escrita do qual foram excluídos durante algum ou muito tempo. Ler é apropriar-se do significado do que lemos, e é exatamente este desafio que torna a aprendizagem da leitura um processo instigante e prazeroso. Reduzir a leitura ao mero exercício do decifrado é destituí-la de sentido”.

Ainda, segundo Irandé Antunes (2009, p.188), “A escola é, especificamente, a instituição social encarregada de promover, aprofundar e sistematizar a formação instrucional e a educação da comunidade”
Apesar de a responsabilidade pela aquisição de tais competências ainda ser atribuída e centrada na escola como referência para esse intento, há a necessidade da participação, colaboração e empenho por parte de professores e outros atores sociais como as instituições familiares, midiáticas, comunitárias entre outras, na constituição dessas competências, no sentido de motivação e estímulo a uma aquisição de habilid ade que não é, diferente do que muitos consideram, inato ao indivíduo e que deve ser percebida de modo interacionista, permitindo o encontro, assim, como a mobilização dos vários conhecimentos disponíveis e indispensáveis à formação leitora do indivíduo.
A escola voltada à EJA é, ao mesmo tempo, um local de confronto de culturas e um local de encontro de singularidades. O trabalho pedagógico com jovens e adultos que necessitam ter voz e acreditar em si próprios vai intervir no âmbito social na medida em que as atividades, os conteúdos e a forma de avaliação em EJA propiciem recursos e ferramentas aos educandos para que tenham mais visibilidade social e para que considerem que seu destino não está selado, que sua história não está acabada: não apenas a história individual, mas a coletiva.
Entende-se que a escola deve promover estratégias que mobilizem os alunos internamente incentivando-os para que a prática da leitura seja algo desafiador e interessante, e não somente ler por ler, que não seja uma obrigatoriedade, que busquem a partir da leitura a ampliação de conhecimentos, autonomia e independência educacional e pessoal.

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