Materialidades da comunicação: por um novo lugar da matéria na teoria
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Falar em materialidades da comunicação significa ter em mente que todo ato de comunicação exige a presença de um suporte material. Isso parece tão natural que oculta diversos aspectos, como a idéia de que a materialidade do meio de transmissão influencia e até determina a estruturação da mensagem comunicacional.
Gumbrecht foi um grande estudioso sobre a materialidade dos meios e percebeu que o campo literário só poderia se renovar quando a obra fosse considerada a partir de um contexto amplo, que envolvesse as relações da obra com seus receptores, as condições históricas e materiais desses receptores e a própria materialidade do objeto. Como ele era um medievalista, a literatura medieval demandava uma consideração dos fatores extra-literários, pois as pessoas não eram leitores, mas ouvintes. O corpo, então, era o elemento de materialidade.
Gumbrecht coloca uma pergunta: de que maneira as materialidades da comunicação respondem ao quadro da situação histórica pós-moderna? Ele sugere a utilização de três conceitos-chave: destemporalização (o futuro aparece como resultado previsível do passado e do presente. O futuro aparece como algo a ser temido. A atualidade está mobiliada de diversos passados artificiais e a cultura pós-moderna passa a se caracterizar pela permanência de um presente infindável); a destotalização (os conceitos e sistemas de pensamento desistem de se universalizar); e desreferencialização (ou desnaturalização, é a perda progressiva das certezas oferecidas pela nossa representação de um mundo externo e objetivo. As tecnologias do virtual contribuíram para este processo). O sentimento que isso causa é de um mundo menos estruturado e não mais fundado na figura central do sujeito.
O campo hermenêutico pode ser sumarizado em quatro premissas: de que o sentido é uma atividade do sujeito e não dos objetos; de que corpo e espírito são distintos; de que é o espírito que conduz o sentido e que o corpo serve apenas como instrumento secundário. O gesto hermenêutico se baseia na idéia de que uma superfície (corpo, texto, materialidades) atua como simples instrumento de expressão de um sentido, que deve ser encontrado na profundidade (espírito, significado, imaterialidade). Como a expressão é insuficiente em relação ao espírito, surge a necessidade de interpretação. Hjelmslev sugere concentrar a atenção não na busca pelo sentido como algo pré-dado e apenas à espera do ato interpretativo, mas antes procurar entender como o sentido pode constituir-se a partir do não-sentido. Para ele, a substância do conteúdo e a substância da expressão devem adotar uma forma para que possam funcionar como operadores de significado e significante. Depois devem acoplar-se para se converterem em sentido articulado.
As tecnologias de inscrição, de comunicação, não são meros instrumentos com os quais os sujeitos produzem sentido. Elas antes representam o horizonte a partir do qual algo como o próprio sentido em geral pode surgir. Todos os meios de transmissão necessitam de um canal material, e a característica de cada canal material é que além da informação que ele carrega, ele produz ruído e não-sentido. A literatura então passa a ser definida não por aquilo que significa, mas pela relação entre significado e aquilo que é excluído do campo da significação como ruído. A diferença entre esses dois elementos representa o campo de estudos fundamental da teoria das materialidades. A grande conclusão é que o instrumental tecnológico (produção, gravação, armazenamento e reprodução) exerce influência e até determina o que se apresenta como mundos semânticos, simbólicos e espirituais.
Todo objeto cultural pode ser investigado do ponto de vista de sua materialidade. Qualquer campo do conhecimento pode ser pensado a partir do horizonte das materialidades.
Vivian Sobchack estuda a interação entre corpo e máquina, e adverte que nenhuma tecnologia é neutra e que elas já estão promovendo o desaparecimento da cultura da imagem, assim como do corpo.
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