O Vale das Bonecas (Jacqueline Susann)
(Ana Leorne)
O manuscrito deste romance foi consecutivamente rejeitado nas primeiras tentativas para publicação, o que não o impediu de se tornar um best-seller e colocar Jacqueline Susann no top das escritoras que mais livros vendeu nos Estados Unidos.
O Vale das Bonecas foi recusado muitas vezes, sendo rotulado sistematicamente como “pornografia”. No entanto, a persistência da autora aliada a noites em claro a substituir parágrafos, cortar capítulos e a lutar para manter muitas cenas que fizeram a própria Cassell Publishing, a editora que finalmente aceitou publicar o livro, corar de vergonha, fez com que o romance visse finalmente a luz do dia. E em poucos meses vendeu milhões de cópias.
A publicidade que Jackie e o marido, Irving Mansfield, fizeram ao livro ajudou bastante (percorreram livrarias de todo o país assinando todos os exemplares visíveis). O livro logo chamou a atenção de todo o tipo de público, desde os críticos literários às donas de casa – que Susann dizia lerem o romance por “saberem que nunca iriam àquelas festas, nunca usariam aqueles vestidos, e no entanto percebiam que as pessoas que o faziam não eram felizes. E isso dava-lhes uma espécie de consolação ao voltarem para casa e para as suas vidas, que consideravam monótonas e desinteressantes”. As ofensas ao estilo de Jacqueline Susann cresceram num sentido diretamente proporcional ao das vendas, chegando ao ponto de insultos em programas de televisão ao vivo, como quando Truman Capote ofendeu a Susann no Tonight Show, seguindo-se um acalorado debate após o qual Capote confessou nem sequer ter lido o livro.
A história começa no final dos anos 40, Nova Iorque, Broadway entre clubes noturnos, desgostos amorosos e grandes segredos. E depois as “bonecas”, que não são mais do que a gíria por elas utilizada para se referirem aos barbitúricos que tomavam para se sentirem estimuladas – ou adormecidas – numa vida que acaba por se tornar vazia de afetos, objetivos e interesses. Nesse turbilhão estão Anne Wells, que chega a Nova Iorque decidida a tomar as rédeas da sua vida trabalhando como secretária de um produtor de espetáculos, Neely O’Hara, um talento em busca do seu lugar na Broadway após um passado no teatro de vaudeville, e Jennifer North, que possui como único trunfo a sua beleza e decide usá-la de modo a nunca precisar de ninguém. Este aparente grito pela emancipação feminina é então entrecortado pela fragilidade com que cada uma lida não só com o sexo oposto mas com todo o tipo de relações humanas, levando-as a refugiarem-se nas “bonecas”, sendo a descida ilustrada como o “vale” que se encontra após a enorme montanha de satisfação pessoal e profissional que atingiram.
Inúmeras personalidades conhecidas do público em geral foram apontadas como tendo sido as principais referências para a criação das personagens de Susann, os nomes de Judy Garland, Frances Farmer, Ethel Merman e Betty Hutton encontram-se entre os que mais vezes foram mencionados, contribuindo para o escândalo que envolveu a promoção do romance à medida que os leitores associavam determinadas atitudes às caras que viam diariamente na televisão ou no cinema.
O Vale das Bonecas não tem um final feliz; e isto não é estragar a estória para quem o vai ler – apesar de todos os livros de Jacqueline Susann serem dificílimos de encontrar, pois depressa se percebe que nenhum livro dela acaba com casamentos ou foram-felizes-para-sempre. A principal razão foi apontada pela própria Jackie quando afirmou ter “convivido com todas estas pessoas, gozado este estilo de vida” e nunca ter conhecido ninguém que fosse realmente feliz com todo o luxo, sucesso e atenção que recebia. Especula-se que outra das razões para os finais negros da escritora se deve ao diagnóstico de câncer da mama que lhe foi feito em 1962 que fez com que ela se agarrasse aos anos que lhe restavam e se deixasse abater pelo desencanto da vida, agindo como uma das personagens do seu livro ao esconder toda a tristeza e abatimento causado pela doença debaixo do seu novo vison. Mais de 30 milhões de cópias mais tarde, é a sua obra a herança quase imaterial que amarga qualquer visão do mundo, sem lhe retirar a inerente curiosidade e euforia de uma garota que pisa pela primeira vez a 5ª Avenida.
Vale a pena ler o romance. Cheio de glamour, tristezas e decepções é um prato cheio para quem adora entrar no mundo teatral e cinematográfico americano, mesmo que na ficção.
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