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Os Maias
(Eça de Queiroz)

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OS MAIAS: ADVERTÊNCIA POLÍTICA?



Muito se tem falado a respeito deste romance de Eça de Queiroz. A corrente mais autorizada defende que o mesmo simboliza a decadência e ruína de uma família tradicional portuguesa e representa os períodos da história de Portugal; no entanto, o núcleo dramático ? uma relação incestuosa entre dois irmãos ? poucos trataram de esmiuçar.

?Os Maias? apresenta o incesto de um modo inesperado e terrível: o reencontro e envolvimento de Carlos Eduardo e Maria Eduarda, dois irmãos antes separados por uma série de aventuras e lances dramáticos em uma família. Se analisarmos as circunstâncias em que o fato ocorreu poderemos vislumbrar o que subjaz nesses símbolos e compreender a mensagem de Eça.

Portugal e Espanha, íbero-irmãos, mantinham relações conflituosas desde a ?Restauração ? (1640), movimento que levou à liberação da nação portuguesa do domínio espanhol.

O domínio espanhol sobre Portugal foi bastante desastroso. A nação lusitana foi arrastada pela Espanha a várias guerras que prejudicaram sua economia, como por exemplo, as invasões holandesas no Brasil. Além disso, os choques entre Portugal e Espanha agravaram-se bastante quando da luta pela sucessão do trono espanhol. Participando como aliado da Inglaterra, Portugal apoiou o arquiduque Carlos de Habsburgo.

Com o expansionismo marítimo e a exploração de colônias, mais a ausência de conflitos internos, Portugal ficou em uma situação privilegiada no continente Europeu; tal fato despertou cobiça de outras nações, principalmente a Espanha, preocupada em expulsar os árabes de seu território e também ampliar suas fronteiras.

Sem pretendermos propor novas diretrizes aos rumos que a política, entre as duas nações, assumiu nessa época e na contemporânea de Eça, ressaltamos no entanto que é possível distinguir-se no romance duas facções latentes em Portugal: uma em favor dos espanhóis, outra contra. As discussões no Hotel Central sobre os destinos nacionais e sobre a necessária invasão espanhola, sustentada por João da Ega, é prova disso. O escritor, no esforço desesperado de defender a soberania de seu país, lança mão de um recurso sutil, apesar de terrível e abjeto ? mostra a inviabilidade dessa pretensa união dos dois países através da história de uma ligação incestuosa entre dois irmãos.

Existem, além disso, outras similitudes entre o romance e a situação lusitana.

Tancredo, o amante italiano de Maria Monforte simboliza o poderio da Itália e sua importância estratégica para Portugal desde o estabelecimento da rota comercial Mediterrâneo-Atlântico Norte. Portugal se transformou em um importante centro do comércio de especiarias entre as cidades italianas ? Gênova e Veneza principalmente ? e o Mar do Norte, formando-se em Portugal uma forte burguesia nacional aos moldes do refinamento italiano. Maria Monforte apaixonou-se, ficou deslumbrada com a ostentação e seguiu o príncipe cegamente, sem medir conseqüências. Já neste trecho inicial do romance, Eça chama a atenção do leitor ao arrebatamento e sentimentalismo inconseqüentes que caracterizavam a personalidade do cidadão português e, por extensão, os atos administrativos e privados de seus governantes.

O impassível Craft, inglês, distante do ambiente geral de corrupção, cinismo, aviltamento e mediocridade que grassava em Portugal, pode representar a verticalidade e nobreza de caráter nas intenções da Inglaterra ao pressionar Portugal para a extinção gradual do tráfico negreiro com outros países, entre eles, o Brasil. Eça, sensível e perspicaz, solidarizou-se com esse gesto da nação britânica e traçou o perfil inglês como sóbrio, austero e incorruptível.

Afonso da Maia e o Ramalhete retratam um Portugal conservador, reto e justo, que procurava soerguer-se mediante o sentimento de nacionalidade, honra e moral através de um liberalismo moderado.

A separação do casal e a retirada de Maria Eduarda, subvencionada para o resto da vida pelo patrimônio dos Maias,tem o contorno nítido do patronato econômico português à nação espanhola, através de expressivos acordos e tratados, entre eles o Tratado de Tordesilhas, onde Espanha partilha com Portugal o lucro auferido com a exploração de terras descobertas no continente sul-americano.

Eça de Queiroz não garantiu a sobrevivência da nação portuguesa ao determinar a morte de Afonso da Maia. Entretanto, seu mérito maior foi colocar diante do leitor a descrição, com grande fineza, requinte e habilidade, de um drama vivido por Maria Eduarda e Carlos Eduardo irmanados em uma mesma paixão, ligados por um amor indescritível tamanho o brilho e intensidade.

O absurdo da mensagem, apesar de válida enquanto advertência política, é demonstrar a incapacidade do ser humano em ligar-se fiel e sinceramente a outro, a não ser por laços consangüíneos. Não sobreviveu Portugal nem o amor na visão de Eça. Permaneceu o toque mágico do romancista à palavra escrita, revelando, nas entrelinhas de um caso de amor, um veemente apelo à nação lusitana.


Eleanor Stange Ferreira
Pesquisadora



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