Avaliação educacional: caminhando pela contramão
(Luiz Carlos Freitas et al.)
Todo trabalho pedagógico pressupõem um momento de avaliação, seja ele de natureza formal ou informal. Assim sendo, é natural que os mais diversos teóricos se debrucem sobre esse momento do trabalho educacional com a finalidade de melhor compreender a sua complexidade. Entretanto, apesar dos inúmeros estudos realizados sobre esse tema, a avaliação continua sendo a parte mais obscura e ambígua do processo de escolarização. Raras são as vezes em que há consenso dentro da equipe de uma escola sobre o que seria a avaliação. Isso traz diversas implicações, pois a avaliação é, inevitavelmente, aquilo que orienta e reorienta o trabalho pedagógico, que redireciona os esforços da equipe da escola e que configura a maneira com que os alunos serão vistos pelos professores, os professores vistos pela família e pela equipe gestora da escola e a escola vista pela sociedade. Tendo por objetivo contribuir com esse campo de debate, o livro Avaliação Educacional: caminhando pela contramão ajuda a lançar luz sobre o tema, procurando expandir a discussão e não se ater apenas aos aspectos técnicos da avaliação. Assim, o livro pretende desenvolver uma discussão mais ampla do tema, enfocando-se também na natureza informal da avaliação e expandindo seu local de realização para a escola como um todo. O primeiro capítulo do livro trata justamente dessas questões, defendendo uma visão não linear do processo de avaliação, que considere também seu aspecto informal. Assim, a avaliação não ocorreria apenas no final do processo pedagógico, mas seria justaposta aos objetivos do trabalho, que dão base para a construção de um processo de avaliação. Por sua vez, a partir dos conteúdos, projetados pelos objetivos, poder-se-ia extrair situações de avaliação do aluno. Assim, os objetivos e a avaliação orientam todo o processo de ensino-aprendizagem.A partir disso, discute-se a função da escola na nossa sociedade e propõe-se que a avaliação seja a ferramenta de transformação dessa função. A autora afirma que a avaliação seria o ponto de entrada mais eficiente para uma transformação da função da escola, função essa formativa e informativa, pois ela ratifica ou impõem resistência aos valores da sociedade na qual está inserida.Dessa forma, caberia à equipe pedagógica da escola refletir se essa transformação é desejada ou não, se a equipe tem como valor a transformação social.No segundo capítulo, continuando a linha de raciocínio do anterior, os autores desenvolvem o conceito de escola reflexiva. Assim como atualmente se fala muito em professores reflexivos, os autores defendem que não só o professor deve refletir sobre sua atuação, mas a escola como um todo deve se configurar como um ambiente reflexivo, capaz de interpretar seu ambiente de trabalho, discutir seus problemas em conjunção e propor soluções localmente. Aponta-se como principal necessidade para que isso ocorra a incapacidade do professor de sanar todas as imperfeições do sistema educacional: o professor reflexivo pode, sim, realizar muito, mas sem o apoio de uma escola reflexiva ele não conseguirá explorar toda sua potencialidade. Portanto, nessa linha de pensamento, seria necessário que se ampliasse o local da avaliação, superando a sala de aula e tornando a escola como um todo em objeto de avaliação e avaliadora. É nesse sentido que se torna essencial a realização da avaliação institucional, processo que envolve todos os atores da escola com o fim de discutir o aprimoramento da escola a partir de seus problemas. Esse modelo de avaliação da instituição escolar pressupõe uma construção local, ou seja, a própria equipe da escola, seus alunos e famílias constroem juntos uma escola de qualidade.Já tendo discutido a avaliação no âmbito da sala de aula e na escola como um todo, a avaliação institucional, o próximo passo é discutir a avaliação em larga escala de sistemas de ensino. Os autores explicam que tal maneira de avaliar teria como objetivo coletar informações para reorientar políticas públicas. Assinalam, entretanto, que se criou a ilusão de que com essa forma de avaliação pode-se também avaliar a escola e os professores, quando essas instâncias deveriam ser avaliados dentro da própria escola, por meio da avaliação institucional, ou por meio de avaliação de larga escala realizadas no nível municipal. Isso não impede que a esfera Estadual e Federal realizem suas próprias avaliações, mas lhes tira a responsabilidade de e a pretensão de avaliar o professor e a escola, passando isso a ser responsabilidade do município e da própria escola. Assim, a escola deveria se apropriar dos resultados da avaliação em larga escola para procurar, a partir de seus próprios recursos e possibilidades, meios para melhorar suas condições. Os autores também ressaltam a importância de não se utilizar os resultados desse tipo de avaliação para realização de ranqueamento ou para complementar o salário do professor.Assim, fica posta a relação entre os diferentes espaços da avaliação na escola: a sala de aula, a escola como instituição e o sistema de ensino no qual ela se insere. Cada qual tendo seu objetivo e importância próprios, mas as três tendo de, obrigatoriamente, se complementar para que se possa caminhar na direção de um ensino de melhor de qualidade.
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