Resumo de Nove Rainhas -

Suspense. Experiente trambiqueiro que vive de aplicar pequenos golpes, Marcos conhece por acaso Juan, trambiqueiro como ele, porém mais jovem e menos experiente. Precisando de um parceiro desde o desaparecimento do anterior, Marcos convida Juan que, embora desconfiado das intenções do outro, aceita ocupar a vaga. Passam então a cometer os delitos rotineiros, até que encontram Sandler, exímio falsificador que os envolverá na venda de uma cópia falsa das “Nove Rainhas”, valiosa folha de selos da República de Weimar, a ser comprada pelo rico executivo espanhol Vidal Gandolfo. Hospedado no luxuoso hotel em que trabalha Valéria, irmã de Marcos com quem cortou relações devido a seu passado desonesto, Gandolfo está disposto a negociar. Mas para Marcos e Juan a venda não será não será simples como esperam.Há um momento, no começo do filme, em que Marcos mostra as ruas movimentadas a Juan e ensina que “eles estão por toda parte”. Golpistas, ladrões, criminosos, sempre atentos e sempre prontos para dar o bote. Mais adiante, o mesmo Marcos decreta que “não há santos. O que há são tarifas diferenciadas”. A visão cruel – ou realista – do diretor/autor Fabián Bielinski sobre o comportamento humano não se restringe à generalização. Há espaço ainda para alfinetar a situação específica da Argentina, em nada diferente do vizinho Brasil, quando Marcos diz que “este país está indo à merda”, ou quando o executivo espanhol, acostumado a todo tipo de falcatrua, afirma que espera retornar logo, pois nunca viu país “com tanta disposição para o negócio”. Em Nove Rainhas, desconfiança parece ser a palavra-chave para definir as relações sociais. A todo instante alguém está passando a perna em alguém, sem que haja qualquer vestígio de culpa ou remorso. Mais uma vez, Marcos ensina: “Claro que eu poderia comprar, mas também posso não comprar. Como fariam todos, se pudessem”. Partindo dessa premissa, pode-se pensar que se trata de um filme denso e amargo, retrato desesperançoso da falência social da Argentina. Pois é o contrário. No movimentado roteiro, há espaço para humor, diálogos espertos, reviravoltas na trama e até uma surpresa ao final. Há uma narrativa ágil, mas inteligente a ponto de não ceder a recursos fáceis que o cinema vem utilizando à exaustão (Tarantino, principalmente), onde o exagero muitas vezes atropela a história. Como narrador, Bielinski não precisa de nenhuma maquiagem para fazer o que todo diretor espera de um filme desse gênero, que é manter presa a atenção do espectador do início ao fim. Encabeçando o elenco, o sempre ótimo e quase obrigatório Ricardo Darín compõe um Marcos pilantra e simpático, bom de conversa e de convencimento. Para ele, nada é mais importante do que fazer o seu trabalho, não importando quem irá lesar para conseguir o que deseja. A princípio, é isso o que o diferencia do “novato” Juan, interpretado por um convincente Gastón Pauls, volta e meia envolvido com conflitos de consciência e atraído pela irmã do parceiro. Além da dupla, o roteiro dá espaço ainda para todos os coadjuvantes, não deixando que fiquem com a impressão de estarem ali apenas cumprindo sua função na trama. Todos possuem aquele quê a mais, seja na interpretação ou nas falas a eles destinadas. Possuem a tal da tridimensionalidade.Nove Rainhas acaba sendo, então, um retrato, dos mais otimistas, de como anda o cinema na Argentina.

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