O que diferencia Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise?
(Cecília Petronilho)
O texto a seguir foi elaborado pela psicanalista Cecília Petronilho e reproduzido aqui sem qualquer redução, ampliação, edição, resumo crítico ou outra intervenção desta autora (Maria_Truccolo).
"A Psiquiatria é uma especialidade médica. Assim, só um médico formado pode fazer residência em psiquiatria. Em seu trabalho, o psiquiatra se orienta pelos comportamentos e queixas do paciente para classificá-lo, usando os critérios estabelecidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (sua versão atual é conhecida como DSM IV).
O tratamento psiquiátrico é feito a partir de remédios. Entre as muitas categorias de transtornos mentais definidas pela psiquiatria as mais conhecias atualmente são: depressão, transtorno bipolar, déficit de atenção/hiperatividade, anorexia, bulimia, esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline etc.
O psicólogo é alguém que fez faculdade de psicologia e que para atuar como psicólogo precisa estar cadastrado no Conselho Regional de Psicologia (CRP). Psicólogos e psicanalistas não medicam seus pacientes. A psicologia clínica pode ter abordagens muito diferentes: psicologia comportamental, fenomenologia, cognitivismo, psicodrama, psicologia analítica entre muitas outras. Dependendo da abordagem teórica do psicólogo, seu trabalho clínico será bem diferente.
A Psicanálise é um campo de investigação da subjetividade humana, que tem sua teoria, sua ética e sua clínica específicas. Há muitos psicanalistas que são psicólogos ou psiquiatras, mas não necessariamente. Freud, o pai da psicanálise, era médico neurologista e foi um grande defensor da não-restrição da psicanálise aos médicos. Ele (e muitos outros psicanalistas depois) defendia a idéia de que para ser psicanalista é preciso uma formação própria, que está ancorada na análise pessoal, no estudo teórico e na supervisão dos casos atendidos. A partir de Freud, muitos psicanalistas foram construindo suas próprias releituras teóricas e clínicas da psicanálise. Alguns nomes muito conhecidos são Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Sandor Ferenczi...
Então, o que há em comum entre os psicanalistas? O que mar os difere dos outros profissionais da área psi? O psicanalista se propõe a ouvir além do que o paciente está dizendo, além do sintoma ou da queixa que ele traz; procura ouvir fundamentalmente o inconsciente.
O conceito de inconsciente, proposto por Freud, trouxe grande resistência. De fato, não é fácil admitir que não somos senhores da nossa própria casa, que nossas ações não são determinadas unicamente pelas nossas vontades conscientes . É preciso admitir que “há algo em mim, apesar de mim, para além de mim”. Mas o que fazer quando não é mais possível negar isso? Freud usa uma metáfora de que não adianta o cavaleiro fechar os olhos quando os cavalos estão indo para o precipício.
Diferentemente da psiquiatria e da psicologia, o foco da psicanálise não está nos comportamentos. Ela dá muito valor para materiais considerados sem importância: o sentido dos sintomas, sonhos, lapsos, a forma como as relações se estabelecem... A regra fundamental da psicanálise é a associação livre: “diga tudo que lhe vem a cabeça, sem se perguntar se faz sentido ou não, se é relevante, se é adequado...”
A psicanálise não busca produzir indivíduos sem conflitos, mas estabelecer novas formas de equilíbrios. É uma viagem pelo estranho familiar. Aonde vai chegar uma análise? Quanto tempo irá durar? Que benefícios o sujeito terá a partir dela? Que rumos tomarão o seu sintoma? Essas e muitas outras perguntas só poderão ser respondidas pelo próprio paciente/analisando a partir da sua própria experiência de análise, se responsabilizando pelo seu desejo."
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