Resenha - Filme "This Film is Not Yet Rated"
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“This Film is Not Yet Rated” é um filme necessário. É um filme que a indústria cinematográfica precisa no sentido de revelar, denunciar e protestar contra um sistema tão ridículo e prejudicial à liberdade artística e de expressão chamada de MPAA, a entidade responsável por censurar tudo o que é produzido em Hollywood no âmbito cinematográfico. “This Film is Not Yet Rated” ainda é um documentário de espírito irônico e jocoso, se revelando apropriado ao seu risível alvo. Mas, infelizmente, “This Film is Not Yet Rated” é também um longa que apesar de importante, acaba se passando por desnecessário ao criar uma narrativa irregular que se desconcentra do assunto principal apenas para estabelecer eventos envolventes, porém dispensáveis, e incrementar o humor do filme. Buscando equilibrar a narrativa habitual de um documentário - com os depoimentos e arquivos de foto e vídeo surgindo em tela - com uma investigação particular contratada pelo próprio diretor do filme, Kirby Dick, o longa acaba sendo, na maior parte de seu tempo, um divertido documentário sobre o ofício de uma investigadora particular. O problema é que ao gastar tanto tempo exibindo os processos da investigação (e até explorado a vida da investigadora contratada, o que era completamente desnecessário), o documentário desvia completamente sua atenção do foco essencial - e por mais lúdico que seja acompanhar o serviço de investigação particular, este não passa de uma distração, já que o assunto principal do filme é rebaixado para segundo plano, dando lugar a uma espécie de jornalismo gonzo de humor escrachado (algo que jamais se acerta dentro da narrativa do filme). E é importante ressaltar que o propósito da investigação, embora tenha de fato ajudado a revelar pertinentes informações que são exploradas no final do filme, nunca deixa de soar infantil, sendo que as perseguições aos membros da comissão julgadora da MPAA mais parecem com atos de provocação do que de pesquisa jornalística. Mas ainda assim há de ser relevada a completa falta de noção do diretor ao inserir as investigações particulares no filme, pois ainda que não fosse necessário exibi-las, estas resultaram em valiosas informações que deram um toque final precioso ao documentário. E desmerecer a importância deste documentário é quase um crime. Seu caráter questionador é fundamental para expor as discrepâncias e podres de uma organização moralista, tendenciosa e preconceituosa como a MPAA. É de se espantar, por exemplo, com a clara discriminação da entidade ao homossexualismo, quando se mostra propensa a classificar filmes com relações homossexuais com mais rigor do que os heterossexuais, como se o sexo gay (mais do que o heterossexual) fosse uma afronta aos “bons costumes” americanos e prejudicial às crianças. Aliás, as questões levantadas pelo filme em cima do sexo no cinema, que é o conteúdo principal para que um filme possa ganhar classificação máxima (e assim estar mais sujeito a um fracasso comercial), são interessantíssimas; permitindo que seus entrevistados possam questionar o porquê do sexo ser algo mais restrito do que a violência, e o porquê da violência crua e realista (que mostra as consequências reais do ato violento) serem mais rigidamente censuradas do que a violência branda, que expõe um forma de violência nem sempre condizente com a gravidade real do ato. Se menos tempo fosse perdido com as investigações, “This Film is Not Yet Rated” ainda poderia explorar mais seu assunto-tema; questões como o que fazer para melhorar o sistema de classificação ou se ele ao menos deveria existir seriam bem-vindas e relevantes, bem como a opinião de especialistas sobre as influências que os filmes causam na sociedade (sobretudo nas crianças), já que é um sub-tema que chega a ser levantado pelo filme, mas pouco aprofundado; e o consumo de drogas como elemento determinante para as duras censuras também deveria ser evocado com maiores reflexões. Mas apesar de ainda deixar a desejar em alguns pontos, é certo que as denúncias e ironias que este documentário pratica na direção da MPAA o classifica como um documentário “ainda não censurado”, porém definitivamente importante e indispensável para a busca da preservação da liberdade artística no cinema americano que é sorrateiramente repreendida por este câncer chamado MPAA.
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