Pelo TEU OLHAR
(João Brito Sousa)
PELO TEU OLHAR
Entramos em Olhão e a cidade recebe-nos com simpatia através do sorriso das pessoas. As cidades, no fundo, são as pessoas que nelas residem. E é das pessoas que vem o calor da cidade, esse calor que nos aquece o coração e que o encharca de recordações para toda a vida. Que foi o que aconteceu comigo e que me levou a dizer, “Eu Gosto de Olhão”, que é o título desta crónica.
Gosto de Olhão pela profundidade do olhar dos pescadores, um olhar simultaneamente duro e meigo, esse mesmo olhar com que afagam as redes e o peixe que acabaram de pescar, ou esse outro olhar crítico, em relação à vida que escolheram ou que para ela foram empurrados; a faina é dura. Mas em Olhão, tempos houve em que todos eram pescadores ou se não eram todos, os que não eram, tinham um parente mais ou menos próximo que era. Deixo-lhes os meus respeitosos cumprimentos.
A vida em Olhão parece-me suave e calma umas vezes, outras vezes acelerada, talvez como em todo o lado. Quando lá vou, normalmente aos fins de tarde, observo o movimento da cidade na sua voz única, melodiosa quanta baste, às vezes cumprimento um conhecido que passa e digo um boa tarde amigo, enquanto os pardais voltam, também eles, da faina. Olhão, a cidade que Sinatra poderia ter cantado no seu My Way.
As minhas recordações de Olhão vão desde os bailes no recinto de baskett de “Os Olhanenses”, onde o Toupeiro, antigo jogador do SC Olhanense, cantava as suas melodias. E a rapaziada deslizava ao sabor das canções. Outras vezes era a Cidália Moreira, outras vezes a Isolina Granja. Outras vezes outros. As deliciosas noites de Olhão que me deixaram saudade e que me ensinaram que se é jovem apenas uma vez. Nós, porque a cidade não envelhece. As avenidas enchem-se de gente jovem e até os velhos do café “A Chaminé” me parecem jovens. E são.
Olhão, a cidade que me encanta, pela extensa avenida que vai desaguar na rua do Comércio, onde os olhanenses se passeiam, orgulhosamente, pela própria rua do Comércio, com o seu olhar circunspecto e onde as velhas vão às leitarias tomar o pequeno almoço.
Olhão é outro junto do mar, onde fica a Av. 5 de Outubro, o mercado, que abastece a cidade, bons restaurantes de peixe assado por ali, muitos cafés com esplanadas, os casais que tomam o café da manhã antes das compras, a criançada que se agita, os pardais que partem em bandos para os campos e voltam ás sete da tarde.
A melhor amêijoa do mundo vende-se por ali (farto-me de dizer isto) e talvez diga nas minhas crónicas muitas coisas repetidas. Mas Olhão não se repete, não, a cidade apresenta todos os dias novos motivos de atracção, um novo visual, sempre muito asseada e limpa, sempre orgulhosa do seu passado. El-Rei D. Carlos passeava-se naqueles mares, no seu barco, de vez em quando e dava um bom dia aos pescadores.
A cidade de Olhão de Mestre Mendinho já só nas memórias dos de oitenta ou mais anos, ou então na imaginação do grande artesão da cidade, o meu amigo José Custódio ou o Zeca dos Barcos, que tem feito inúmeras exposições e tem levado a cidade de Olhão às costas para todo o lado. Deixo-lhe um abraço de grande amizade.
E, já agora, como Maurice Chevalier disse à Torre Eifel, “tu est má frere”, também eu direi de ti ó minha cidade. de Olhão: és minha irmã.
PELO TEU OLHAR.
Sousa Farias
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