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Minhas Tardes com Margueritte
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Drama. Gordo, meio bronco e semianalfabeto, Germain Chazes é um operário que vive num trailer ao lado da casa da mãe. Embora sensível (mantém uma horta, faz esculturas em madeira, cria um gato e é carinhoso com a namorada Annette), vive sendo destratado pela mãe alcoólatra e é motivo de chacota entre os amigos do bar que frequenta, por causa de sua pouca inteligência. Numa tarde, sentado no banco da praça onde vai conversar com os pombos, Germain conhece Margueritte, que aos 95 anos tem como maior prazer ali sentar-se, diariamente, para ler e reler seus livros favoritos. A amizade surge instantaneamente, e cresce quando Margueritte não apenas passa a ler para Germain, mas também estimula-o a ler por conta própria. A vida do operário, que já começara a transformar-se com os encontros diários com a nova amiga, sofrerá um impacto após a revelação de que Margueritte, que sofre de uma degeneração macular senil, está perdendo a visão.“Nesse mundo, passamos coisas adiante”. A frase, pronunciada por um dos personagens, bem poderia servir como chamada deste Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en Friche, França, 2010), pequena obra prima de delicadeza e bom gosto dirigida por Jean Becker (de Verão Assassino, com Isabelle Adjani) e baseada em romance de Marie-Sabine Roger. Numa sociedade em que a leitura perde cada vez mais a importância, esse filme é quase uma fábula. O personagem Germain, quase grotesco, quase ogro, mas com um coração enorme, sofre de baixíssima autoestima, considera-se um nada e aceita de cabeça baixa todas as vezes que a mãe lhe chama de imbecil ou diz que ele foi um erro – o que vem fazendo desde a infância, que acompanhamos em rápidos flash backs e ficamos sabendo de onde veio o trailer que serve de moradia ao protagonista. Entre os companheiros de bar, ainda que vítima de frequente deboche, Germain não se furta a levantar de noite para ir salvar um deles, que tentou suicídio, nem a consolar (mesmo que de maneira desastrada) os entraves amorosos de outros. Quando a literatura entra em sua vida, através da figura encantadora da velhinha Margueritte, não é apenas a superação de uma deficiência. A literatura amplia horizontes e aproxima pessoas. Germain aprende isso da melhor maneira, na prática. Primeiro ouvindo, os olhos fechados criando na cabeça as imagens que vêm com as palavras fornecidas por Margueritte. Depois lutando, desistindo e retomando a luta para ler sozinho, ganhando depois a ajuda da namorada. Germain sabe, sente o quanto isso o enriquece, e não se furta a exibir o novo vocabulário aos amigos, que, se a princípio estranham e debocham, depois chegam a concordar com uma de suas citações. A literatura aproxima as pessoas. Mas uma história como essa, em tempos de individualismo, internetês, bullying, insultos governamentais ao idioma, desvalorização do ensino e uma quase aversão social ao pensamento, pode soar inverossímil. Talvez por isso a direção tenha optado por situar a ação longe dos centros urbanos. A cidade em que vivem Germain e Margueritte é modesta, mansa e tranquila, permitindo a existência de personagens que ainda prestam atenção nas pequenas coisas. Como narrador, Jean Becker tem a mão leve e econômica, mas segura. Auxiliado por ótimos diálogos, demonstra carinho por todos em cena, dedicando momentos importantes a personagens secundários e chamando a atenção tanto para o pessoal do bar – os amigos, que parecem saídos de uma comédia italiana, e a proprietária, apaixonada pelo empregado que a trocou por outra – quanto para Jacqueline, a mãe de Germain. Seja na juventude ou na velhice, colando rostos de artistas em cima das fotos de família ou arrancando os vegetais da horta do filho, esta personagem encontrou ótimas intérpretes para a sua loucura e intensidade. Mas o destaque é certamente Gerard Depardieu. Um personagem como Germain parece muito fácil de fazer, e há sempre o risco de transformá-lo num retardado fofo, numa caricatura ou num Obelix. Depardieu passa longe disso. Sua burrice ou inocência, por mais que aparentem ser espontâneas, são tão ricas em nuances, olhares, gestos e timbres de voz que revelam o cuidado com a composição. Seja rabiscando o próprio nome num monumento público dedicado aos mortos, conversando com o gato (que ronrona e presta a maior atenção no papo do dono) ou dizendo bobagens no bar, Depardieu faz valer cada cena. Repare, por exemplo, na expressão dele quando Margueritte revela que está perdendo a visão. E deixe para pegar o lenço depois. Obviamente, os momentos mais encantadores são os que o protagonista contracena com a frágil e elegantíssima Gisèle Casadesus, a Margueritte. As passagens da leitura, valorizadas pelas imagens da cabeça dele, e de despretensiosa, mas riquíssima, conversa são plenos de poesia e humor. Resumindo, Minhas Tardes com Margueritte é um filme lindo. O que significa que ninguém irá assistir.



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