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2 Perdidos Numa Noite Suja
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Drama urbano. Há cinco anos vivendo em Nova York, para onde se mudou em busca de riqueza, o mineiro Tonho acaba de sair de uma temporada de seis meses na prisão. Embora nas cartas que escreve para a mãe sua vida seja próspera, tudo o que Tonho conseguiu nesse tempo foi trabalhar como faxineiro, até conhecer Rita, jovem que se faz passar por menino e vive de prostituir-se com homossexuais em banheiros públicos. Salva de um estupro por Tonho, Rita, que não aceita o nome de batismo e só atende por Paco, vai morar com ele num porão. Quando se reencontram após a cadeia, ela permanece menosprezando os planos dele (juntar dinheiro para regressar ao Brasil), enquanto sonha em ser cantora de hip-hop e vicia-se em crack, numa situação que tende cada vez mais a piorar, na medida em que não há mais dinheiro e a validade do "green card" de Tonho chega ao fim. Até então bronco e honesto, Tonho enfim se rende aos planos de Paco e os dois resolvem-se pela via do crime, planejando roubar os clientes dela."Fica. Só quero um amigo". A frase de Tonho, quando Paco/Rita ameaça ir embora achando que o outro só está oferecendo um abrigo para obter vantagens sexuais, não apenas esclarece o comportamento dos protagonistas desse bom 2 Perdidos Numa Noite Suja (Brasil, 2002), mas também toca em insistente questão desses tempos globalizados: a solidão urbana, o estar sozinho dentro de uma metrópole superpovoada. Não faz muito sentido, assim, a crítica recebida pelo filme por ter adaptado a ação (no texto original, escrito na década de 1960, Tonho e Paco vinham do interior de São Paulo para a capital). O sentimento de exclusão social, a marginalidade e a violência não só permaneceram na nova versão, mas aumentaram a ponto da solução praticamente desaparecer no horizonte, igual às torres gêmeas do World Trade Center que ainda podem ser vistas no início do filme. A dupla de personagens não passa disso mesmo, dois perdidos, com poucas referências e nenhuma expectativa, obrigados a cada vez mais podar as arestas de um sonho que a realidade teima em sujar.Se, por um lado, Tonho já não crê na ilusão da América e só pensa em voltar o quanto antes, Paco, por razões que o texto apenas sugere (ela teria nascido em berço de ouro, e sofrido abusos do próprio pai, justificando a ambigüidade sexual e a violência contra o cliente velho), quer distância tanto da terra natal quanto de seu passado. Parece totalmente adaptada ao ambiente marginal, vicia-se, trafega com desenvoltura pelas ruas do baixo mundo novaiorquino, fala inglês com fluência e pretende se tornar uma estrela cantando um ritmo puramente americano, o tal do hip hop. Mesmo assim, acaba deixando transparecer a pouca idade e a infância que ainda existe ali, encantada como uma criança quando compra um par de botas, e quase fazendo bico quando Tonho ameaça tomá-las. Personagens solitários, escondendo atrás da agressividade uma insuportável carência, e riquíssimos, interessantíssimos, que o roteiro de Paulo Halm e a direção de José Joffily trabalham com correção. O resultado, ainda assim, poderia ser melhor. Roberto Bomtempo se sobressai com um Tonho bronco e digno de pena, sem nenhum momento escorregar para o patético ou o caricatural. Débora Falabella, aqui pálida como um cadáver em decomposição, no entanto, carrega demais na malandragem de Paco, embora esbanje sensualidade nos poucos momentos em que o clima tenso do filme permite que ela aflore. A atriz, linda e talentosa, por mais que tivesse feito uma drogada numa novela, estava mesmo precisando de um papel que a livrasse da imagem de bonequinha bonitinha de seus personagens televisivos. Nota-se na narrativa a preocupação em também agradar o público, ainda que isso sacrifique o impacto do próprio filme, baseado num texto cuja intenção era justamente não ser agradável. A trilha sonora moderninha e cheia de ginga acaba tirando a força da narrativa, dando a este 2 Perdidos... uma cara mais de fábula corriqueira do que de "filme corajoso", como disse um crítico. A adaptação é melhor sucedida ao conseguir transpôr para a tela os longos diálogos e o clima claustrofóbico da peça, e ainda assim manter fixa na trama a atenção do espectador, até os créditos finais. Méritos da trama forte, construída com genialidade pelo saudoso Plínio Marcos, e da equipe reunida pelo diretor: além do casal de atores, o cenário opressivo e a fotografia suja, granulada, transmitem todo o clima marginal pedido pelo roteiro. (Escrito em abril de 2002, época do lançamento do filme nos cinemas cariocas.)



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