Gilda
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Melodrama. Argentina, fins da Segunda Guerra Mundial. Salvo de um assalto por certo Ballin Mundson, o americano Johnny Farrell oferece-se para trabalhar no cassino por ele administrado. A juventude, a esperteza e a dedicação de Farrell parecem agradar Mundson, que logo o coloca como o número dois no estabelecimento, além de apresentá-lo à sua bela e sensual esposa Gilda. A amizade entre os dois homens será, então, posta à prova quando Mundson, observando a aparente hostilidade existente entre Gilda e Farrell, desconfia da existência de um passado comum entre os dois. Ao mesmo tempo, as seguidas visitas de dois homens de comportamento suspeito levam Farrell a crer que o cassino é na verdade apenas uma fachada para negócios tanto mais ambiciosos quanto perigosos, e que a própria vida de Mundson está em perigo. Designado para ser uma espécie de "protetor" da esposa do patrão (com quem teve um romance no passado), Farrell irá acompanhar impotente o comportamento provocante de Gilda (que não se furta a sair com outros homens só para desafiá-lo), julgando que o amor de Mundson pela mulher, que o leva a recusar-se a fugir logo daqueles que o ameaçam, poderá custar-lhe a própria vida.Felizmente a propaganda deste filme diz que "nunca houve uma mulher como Gilda". Dissesse "Nunca houve um roteiro", e estaríamos diante de um caso grave de propaganda enganosa. A trama, ainda que pródiga em bons diálogos e um erotismo muito sutil (com direito até a leituras que distinguem tons de homossexualismo na relação entre Mundson e Farrell), deixa diversos buracos, tanto no passado quanto no comportamento de seus personagens. Explora-se bem o amor/ódio que marca os encontros entre Farrell e Gilda, mas faltou, entre seus respectivos intérpretes, a química necessária para torná-los um casal para entrar na lista dos clássicos hollywoodianos (ainda que a dupla retornasse, dirigidos pelo mesmo Charles Vidor, em Os Amores de Carmen). Na verdade, a única química que os dois parecem produzir é a fumaceira saída dos incontáveis cigarros, um atrás do outro, que consomem no decorrer da história. Fica difícil, então, acompanhar com prazer, gostar, interessar-se, tornar-se cúmplice da concretização do romance, principalmente após a série de torturas psicológicas que o herói inflige à mocinha. Fica difícil até entender o porquê de tanto ódio, por mais que Glen Ford, que em alguns momentos fica a cara do Léo Jaime, se esforce em ser convincente.Mas Gilda (Gilda, EUA/Argentina, 1946) é um clássico, e deve ter algum motivo para isso. Tem, e até mais de um. O trabalho da direção com os atores é bastante feliz nas situações de humor, em que se destaca a atuação de Steven Geray como o empregado Pio. As marcações, quase sempre rígidas demais, servem para acentuar os contrastes da impressionante fotografia, que por muito pouco não divide com a protagonista o estrelato no filme. Ângulos ousados enriquecem a narrativa em momentos como a cena inicial (do jogo de dados), e um dos diálogos entre Farrell e Mundson, onde do segundo só se vê a silhueta. A cena é uma bela surpresa. Isso sem contar as bem colocadas sombras, que não apenas produzem momentos de grande plasticidade visual, mas contribuem (junto com a trilha sonora a cargo de George Duning, Hugo Friedhofer e Victor Schertzinger, não creditados) com as pretensões dramáticas do filme. Isso tudo, no entanto, acaba tornando-se secundário diante da deslumbrante presença de Rita Hayworth. Cada gesto, olhar e fala parecem ter sido cuidadosamente estudados para tornar antológicas todas as cenas em que ela aparece. Dançarina e cantora que alcançaria o estrelato, casaria com o gênio Orson Welles (com quem filmaria A Dama de Xangai), entraria para a história do cinema e terminaria seus dias bêbada e decadente, Hayworth não era atriz de muitos recursos, mas sua canastrice só fez torná-la ainda mais atraente. Seja na cama, deitada de bruços numa penumbra que tenta inutilmente escondê-la, seja dedilhando Put the blame on Mame no violão, ou cantando a mesma música enquanto ameaça um strip-tease no palco, Rita Hayworth consegue afastar de nossas vistas as deficiências do filme. Sua Gilda, sensual, exibicionista, aparentemente independente ("Se eu fosse uma fazenda", ela diz, "não teria cercas"), é também frágil e carente, e termina por sucumbir no duelo com Farrell, que, numa de suas boas falas, observa com falso desdém que "há mais mulheres no mundo do que qualquer coisa... a não ser insetos". O roteiro bem que poderia investir mais nessa ironia, no lugar de ficar inventando tramas pretensamente sérias sem ter como sustentá-las.
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