Horas de Desespero
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Suspense. Seria uma manhã como outra qualquer para a família Hilliard, moradora de luxuosa casa em Indianápolis: o pai, o empresário Daniel, parte para o trabalho dando uma carona à filha Cindy; o filho caçula, Ralph, foi para a escola; e a mãe, Eleanor, ficou cuidando da casa. Seria, se nessa mesma manhã o criminoso Glen Griffen não fugisse da prisão após quatro anos encarcerado, levando na fuga o irmão Hal e o perturbado Sam Kobish. Após escapar dos bloqueios na estrada, os três criminosos vão parar em Indianápolis, invadindo a casa dos Hilliard e tomando Eleanor como refém, bem como o resto da família, à medida em que vão retornando. Enquanto a polícia, sob o comando do agente Bart (responsável pela prisão anterior de Glen), intensifica a busca fechando as estradas, na casa dos Hilliard vai crescendo o clima de tensão e angústia, pois os criminosos não pretendem ir embora enquanto não chegar sua cúmplice, que viria trazer uma quantia em dinheiro para a fuga.O drama do cidadão como refém dentro de sua própria casa, exemplo urbano de uma situação de violência e crime, volta e meia é regurgitado pelo cinema com resultados irregulares. Horas de Desespero (The Desperate Hours, EUA, 1955) tem o mérito de ser pioneiro no gênero, embora os recursos utilizados pelo roteirista Joseph Hayes e pelo diretor William Wyler já tenham sido tão repetidos (até uma refilmagem, com Mickey Rourke e Anthony Hopkins, seria realizada em 1990) que acabaram tornando-o datado. Estão lá os visitantes inesperados (o namorado de Cindy, a professora de Ralph), a ameaça sexual à filha, o bandido psicopata, as desavenças entre os criminosos. Até o comportamento quase gentil dos vilões soa estranho para quem está acostumado com a grosseria e a violência dos bandidos de hoje. O Griffen de Humphrey Bogart, ator sempre expressivo e sempre impressionante, demonstra tanta paciência e disposição para o diálogo, principalmente nos confrontos com o patriarca dos Hilliard, que mais parece um assistente social. Ainda assim, mesmo com quase meio século nas costas, a narrativa precisa de William Wyler ainda dá um banho nos sucessores deste filme, pois é repleta de um charme e inteligência que vão desde a direção de arte e a fotografia até os diálogos concisos e geralmente impecáveis. Coisas que os grandes estúdios de Hollywood faziam brincando. Pode até ser difícil de engolir a facilidade com que os bandidos permitem que os membros da família deixem a casa, ou como são dominados, mas os momentos tensos do filme são elaborados minuciosamente, e seguram a atenção de quem assiste. Basta conferir, na introdução, o cuidado com os diálogos e com a apresentação da família, para logo depois mostrar, sugerindo, a chegada de Griffen. Ou, ainda, toda a seqüência em que o gordo e cruel Kobish entra no caminhão do velhinho dos jornais para silenciá-lo. Isso tudo sem nenhuma macaquice de câmera, nenhum banho de sangue e nenhum palavrão. Os "estetas" da imagem contemporâneos certamente acham sem graça.
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