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Janela da Alma
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Documentário. Através dos depoimentos de celebridades com problemas de visão (miopia, estrabismo, cegueira), e da relação que elas estabelecem com o mundo, o filme lança uma discussão sobre o olhar. Assim, enquanto o poeta Antônio Cícero divaga dizendo que, se o olho é a janela da alma, "você tem que olhar essa janela com outro olho, que também é uma janela que vai ter que ser olhada, numa relação que tende ao infinito" , o filósofo e fotógrafo Eugen Avcar, que é cego ("Não vejo imagens, mas produzo imagens" ) afirma que as pessoas "não sabem mais ver, pois não têm mais o olhar interior" . Opinião partilhada tanto pelo cineasta Wim Wenders quanto pelo escritor José Saramago, para quem existe no mundo contemporâneo um excesso de imagens que não querem nos dizer nada, mas apenas nos vender produtos, deixando-nos cada vez mais perdidos numa existência sem sentido. Mas o filme também explora detalhes como a relação de alguns com o ato de usar óculos, indo desde a vergonha de uma estudante (que não o leva para a escola), à "necessidade de enquadramento e limitação" de Wim Wenders, ou mesmo a recusa em tirá-los durante o ato sexual, do escritor João Ubaldo Ribeiro ( "Algumas mulheres me pediam pra tirar; eu as achava meio degeneradas" ). Janela da Alma (Brasil, 1987) não se limita, no entanto, à verbalização em torno de um sentido. Sua proposta inclui também transmitir sensações ao público, o que consegue em primorosas e silenciosas sequências onde a câmera passeia serena sobre a pele humana, ou sobre paisagens extensas e desertas, um chão de ladrilhos ou qualquer outra textura, alternando closes e planos gerais e obtendo momentos desconcertantes, como o longo passeio pela paisagem urbana noturna, onde a câmera vê o mundo lá fora completamente fora de foco. Cena simples, que ainda assim provoca, principalmente nos que possuem mais de quatro graus de miopia, uma incomum experiência de solidão e angústia.Filme riquíssimo dos diretores João Jardim e Walter Carvalho (este, excepcional fotógrafo de obras como Lavoura Arcaica e Abril Despedaçado), Janela da Alma teoriza ainda sobre o relativo conceito de realidade, que depende da percepção que dela se tem, em depoimentos como o do neurologista Oliver Sacks, que descreve uma certa Síndrome de Capgras (mal que impossibilita a vítima de reconhecer seus familiares por mais que os esteja vendo, achando tratar-se de um truque, ou até mesmo de uma conspiração) para concluir que o reconhecimento visual está estritamente ligado ao reconhecimento emocional; é a emoção que dá algum sentido à percepção que temos das coisas. Wim Wenders parece concordar quando, após narrar o caso de uma tia cega durante sua infância, lembra do conforto proporcionado pelo ato de ouvir histórias, independente do final da mesma ou do fato de esta já ser conhecida. Mais uma vez, trata-se da emoção de receber tais informações (imagens, ainda que sugeridas através de palavras) e da capacidade delas em nos fornecer sentido às coisas. Olhar, cinema e sentido são mencionados também nos depoimentos dos cineastas Walter Lima Jr. (diretor do belíssimo - tanto visual quanto emocionalmente - Inocência) e Agnes Varda. Enquanto ele conta que só percebeu que era míope quando não conseguiu mais ver direito a tela do cinema (concluindo que sua relação com o mundo veio depois da relação do cinema), ela discorre sobre a capacidade que o envolvimento emocional tem em destacar aspectos que para outros passariam despercebidos, usando como exemplo o simpático trecho de um filme seu, onde o simples gesto do marido (o falecido cineasta Jacques Demy) em vestir um suéter adquire importância maior do que a presença da atriz Catherine Deneuve.Assim, o conceito de "janela da alma" dado aos olhos torna-se discutível, segundo Oliver Sacks, pois dá a entender que o olhar trata-se de gesto passivo, como ir à janela e apreciar o que ocorre lá fora, quando na verdade são as imagens que entram na tal alma através da "janela", e são por ela tratadas. "Para conheceres as coisas, há que dares a volta" , ensina Saramago, após narrar um caso de infância em que o luxuoso camarote de um teatro, visto dos fundos, era cheio de teias de aranha e pó. Mensagem sábia, que vale para tudo principalmente em tempos de bombardeamento excessivo de informações em qualquer tratamento, fazendo do público massa receptora passiva de modelos de comportamento e ideologias específicas e abolindo a manifestação das diferenças. Janela da Alma, não fosse o filme escandalosamente belo que é, já serviria para, ao menos, propor um aprofundamento de nossas relações com aquilo que nos cerca.



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