Arabia Saudita, Mulheres ao volante
(Mai Yamani - O Estado de São Paulo 19 junho)
Começa na Arábia Saudita uma campanha de desafio à proibição de mulheres conduzirem carros. As sauditas também não tem direito a voto e precisam de permissão de um homem para viajar ou trabalhar.
Mas a inesperada visibilidade das mulheres nas revoluções que estão se desenrolando no mundo árabe - Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Bahrein e Síria, ajudou a impulsionar o que se tornou conhecido ora como “despertar árabe”, ora como “primavera árabe”. Mudanças ocorreram nas mentes e nas vidas das mulheres ajudando-as a reivindicar liberdade e dignidade.
Desde janeiro deste ano foram transmitidas, imagens de mulheres de todos os níveis, através da internet e jornais, se manifestando ao lado dos homens, marchando por um futuro melhor para elas e seus países.
O contraste entre esse espaço de protesto aberto e a Arábia Saudita não poderia ser mais gritante. Com relação as mulheres o sistema é petrificado. Rostos da família real são vistos por toda a parte; as faces das mulheres são cobertas.
Em nenhum outro lugar no mundo vemos a modernidade como um problema.
Lá arranha-céus crescem do deserto, mas as mulheres não tem permissão de subir com os homens nos elevadores, nem para andar nas ruas, dirigir ou sair do país sem a permissão de um guardião masculino.
Mas a globalização não conhece limites, nem mesmo os estabelecidos pelos guardiões da probidade islâmica. Garotas sauditas de nove anos batem papo online desconsiderando
fatwas emitidas por clérigos wahabitas que proíbem seu acesso à internet sem a supervisão de um guardião masculino.
Em vinte e um de maio, uma mulher corajosa chamada Manal al Sharif quebrou o silencio ousando desafiar a proibição de mulheres dirigirem, dirigiu quarenta e cinco minutos em Riad. Na semana seguinte ela estava na prisão. Dois dias após sua detenção, porém, quinhentos mil expectadores haviam assistido ao vídeo de sua excursão no YouTube.
A Arábia Saudita é o único país do mundo que proíbe mulheres de dirigir carros. O sistema de confinamento que a proibição representa não é justificado nem pelos textos islâmicos nem pela natureza diversa da sociedade governada pelo regime de Al Saud e seus parceiros wahabitas. Esse sistema é muito distante mesmo do restante do mundo árabe, o que se tornou obvio no contexto da sublevação social maciça em quase toda região.
O sistema judicial saudita é um dos maiores obstáculos as aspirações das mulheres, baseando-se em interpretações islâmicas que protegem um patriarcado defensivo. O império da lei na Arábia Saudita é o império da misoginia, a exclusão legalmente abrangente das mulheres da esfera pública.Os governantes anunciaram que protestos são haram, um pecado punível com cadeia e flagelação. Agora, alguns clérigos declaram que a condução de veículos é haram de inspiração estrangeira, punível da mesma maneira. Apesar das ameaças milhares de mulheres sauditas se juntaram ao “Somos todas Manal al Sharif” no Facebook, e muitos outros vídeos de mulheres dirigindo veículos apareceram no YouTube desde sua prisão. Elas também foram detidas e o governo está determinado a processa-las. Mas, elas continuam insistindo que dirigir um carro é seu direito legítimo.
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