A Relação Entre Progressão Continuada e o Analfabetismo Funcional
(Luzia Aparecida Falcão Costa)
A ignorância relacionada aos danos psicológicos causados pela progressão continuada ainda não recebeu por parte dos responsáveis pela educação formal brasileira a merecida atenção e responsabilidade. Como se sabe, a principal característica da progressão continuada é, precisamente, a eliminação da reprovação. Teoricamente, seria justo supor que ela se constituiria no maior avanço pedagógico proposto pelas políticas públicas em educação no Século XX, considerando-se que a própria expressão “Progressão Continuada” significa que o aluno progride automaticamente, sem que seja submetido ao regime de repetições de séries ou à eliminação escolar. Embora seja consensual que a reprovação escolar seja estúpida porque destrói a auto-estima do educando, por outro lado, observa-se também o contraponto de tal evidência. Em um processo educativo que despreza a boa formação de crianças e jovens, evidencia-se o alastramento de indivíduos realmente incapazes de se comunicar de forma correta, prejudicando a futura inserção dos mesmos em nosso mundo do trabalho. Portanto, esse sim é o lado mais estúpido da ação educativa, extremamente distanciado do que possa vir a ser considerado como fator preponderante na relação pedagógica, ou seja, a própria condição de sujeito-aluno, a única que permite o êxito no aprendizado. E, assustadoramente, mais uma vez, os maiores responsáveis pelo sistema educacional brasileiro apresentam-nos proposta, no mínimo acintosa, de aceitação dos desvios de concordância gramatical, escrita incorreta de palavras, ressaltando que o que importa é que as pessoas se comuniquem e que, de alguma forma, se façam entender. Conclui-se, pois, que esta sim, é uma proposição estúpida que invalida todo e qualquer processo avaliativo, necessário a qualquer prática humana, individual ou coletiva, já que não sinaliza para uma progressiva correção das distorções do processo de ensino-aprendizagem que devem estar relacionados a uma contínua e permanente avaliação de todos os elementos envolvidos com nosso sistema educacional. Vale ressaltar ainda que, ao invés de optarem por corrigir tais erros, mais uma vez, vão tentando adequar os meios aos fins, fazendo uso de um processo irracional e incompreensível para todos aqueles que entendem a educação formal como prioritária tanto para a formação pessoal, quanto profissional e cidadã. É bom lembrar ainda que toda essa ignorância com relação às questões pedagógicas atua de forma perversa na vida de nossos alunos, invertendo causas e efeitos do mau ensino. Assim, embora se saiba que a democratização do acesso seja um fato consumado, o mau desempenho da escola atual inviabiliza a possibilidade da concretização de educar a atual e futuras gerações estudantis que dependem do que é oferecido pela rede pública de ensino que, de tão desacreditada, até pessoas que se dizem progressistas se põem a dizer que estamos excluindo os alunos ao aprová-los sem que a eles sejam oferecidas condições de progredirem em seus estudos.
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