Abandonismo. Uma crença sem espíritos
(Estesinversos)
No vernáculo luso-brasileiro não está catalogada a palavra "abandonismo", apesar de ser possível pensá-la pela produtividade da língua portuguesa. No espanhol, abandonismo é sinônimo de derrotismo e expectativa de frustração. Entretanto, ao modo de um profeta, passei a noite sonhando com essa palavra que nunca tinha visto ou ouvido antes. De um vocábulo, se tornou uma abordagem ético-religiosa que prega o abandono de espiritualidades pautadas em misticismos e "além-mundos" de qualquer espécie. Nenhuma novidade, se pensarmos nos ecos da filosofia de Nietzsche e de todos os grandes nomes e movimentos ateístas, cínicos e céticos ao longo da história da humanidade. A crença abandonista me veio em uma noite de sonhos recorrentes em torno desse vocábulo. Ser abandonista, neste primeiro e rudimentar esboço, implica abandonar os preceitos mais "espirituais" de todas as religiões estabelecidas, além de todo e qualquer tipo de racionalidade que envolva discriminação e violência contra ideias e comportamentos de grupos minoritários ou não, mesmo que sejam religiosos. Como consequência, o abandonismo não prega a luta ou a violência contra as religiões e as crenças, mas recomenda o "esquecimento" dessas "fés" como sendo da infância da humanidade ou das sombras na caverna da humanidade. Entre os preceitos a serem seguidos por qualquer abandonista que se preze, preliminarmente estão: 1. Abandonar hábitos e comportamentos que humilhem ou excluam outros seres humanos do convívio social prazeroso em decorrência de suas opções políticas, sexuais e, inclusive, religiosas; 2. Abandonar a ideia de espírito místico ou recompensas espirituais em vida ou após a morte; 3. Abandonar os projetos de dominação violenta, mas manter e ampliar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade oferecidos pelo Iluminismo de origem europeia; 4. Abandonar atividades, hábitos, vícios e comportamentos que não tragam prazer existencial e corporal, especialmente quando tais rotinas prejudiquem o corpo e a harmonia social e de grupos familiares; e 5. Abandonar a vida, ou seja, cometer o suicídio, assistido ou não, quando as forças vitais, de modo irreversível, já não mais promoverem a plenitude; abandonar a ideia de que o suicídio seja um tabu. Na verdade, esse esboço bruto de uma crença baseada numa racionalidade em processo, sem leis fixas ou imutáveis, é resultado da redação de elaborações oníricas. Não deve ser pregado como uma fé nova pois de fato não o é), mas como elucubrações a partir da constatação de que muito desprazer tem sido causado por crenças e comportamentos morais limitados. É hora da humanidade partir para sua adolescência. Abandonismo já!
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