Psicologia do mal
(Pietro Bocchiaro)
Qualquer pessoa em
circunstâncias particulares, pode perseguir outro ser humano: é o que emerge da
impressionante viagem às profundezas do mal, conduzida por Piero Bocchiaro. Página
após página, a análise emocionante e rigorosa oferecida pelo autor cancela a
diferença (certamente reconfortante) entre "bons" e "maus",
colocando fatalmente em crise a tradicional dicotomia Bem / Mal.
Em face da violência, assassinatos, massacres, procuramos
incrédulos os rostos dos culpados como se fossem animais raros, que não têm
nada a ver com a raça humana. A interpretação é
reconfortante. Mas errada. A
banalidade do mal esconde-se em todos nós e os nossos comportamentos são
influenciados pelo ambiente muito mais do que pensamos. Explica-o
o pesquisador Bocchiaro em "Psicologia do mal". Tomemos
como exemplo Adolf Eichmann, o nazista que supervisionou as operações de
transporte de judeus para campos de concentração, um dos maiores responsáveis ?? pelo Holocausto: preso em 1960 em Buenos Aires,
foi julgado em Israel no ano seguinte. Sua linha de
defesa? "Eu obedeci às ordens." Os juízes condenaram-no à morte. Ele era um homem
terrivelmente perverso? Para aqueles que o visitaram
parecia incrivelmente normal. Porque, então, era culpado
de tais crimes horríveis?
Bocchiaro evoca alguns casos de laboratório e explica
porque em algumas situações tendemos a não prestar assistência a um vizinho: paradoxalmente
sentimo-nos desresponsabilizados quando tantos vêem uma pessoa vítima da
violência. Recordando factos de crónica, o pesquisador
tenta explicar também o que se desencadeia num grupo de pessoas comuns até transformá-lo
numa gangue de bandidos cruéis. O autor também lembra a
experiência realizada na Universidade de Stanford, que viu estudantes tranquilos,
alguns declaradamente pacifistas, tornarem-se carcereiros e prisioneiros: a
experiência foi suspensa depois de seis dias, porque a violência estava-se a tornar incontrolável.
Conclusão: o contexto pode arrastar também pessoas pacíficas
a realizar actos de violência ou maus. Cuidado, porém: explicar
certos mecanismos psicológicos não significa justificar os responsáveis, porque
certos horrores clamam por vingança aos olhos dos homens e Deus. Os crimes, em suma, são crimes e devem ser condenados. Mas a psicologia social ajuda-nos a compreender que somos uma mistura
de luz e sombra, de bem e de mal, de céu e de inferno. E,
finalmente, que os Maus e os Bons existem apenas em contos de fadas.
Ilusória é a linha de demarcação entre bons e maus. Não é a natureza do homem,
mas sim o contexto imediato a orientá-lo para o mal. Um tema interessante, mas
provavelemente pouco cómodo para quem está ancorado em crenças velhas e
reconfortantes.
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