BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


O Lobo da Estepe
(Herman Hesse)

Publicidade
O Lobo da Estepe de Herman Hesse, Prêmio Nobel da literatura em 1946 é um livro extraordinário. Foi elogiado pelo também grande escritor alemão Thomas Mann. Hesse foi contista, poeta, romancista e pacifista que insatisfeito com a civilização européia viajou ao Oriente com o fim de conhecer sua cultura milenar. Filho de missionário pietista foi conduzido a seguir o caminho do pai. Começou a estudar teologia, mas parou fugindo do seminário. Estudou latim chegando a ser diplomado na escola de latim Goppingen. Trabalhou como livreiro e antiquário e em 1903 passou a dedicar-se só a literatura. O Lobo da Estepe ele o escreveu quando estava com 50 anos. A mesma idade do protagonista Harry Haller. Harry Haller era um intelectual cuja esposa enlouquecera. Aquele homem amante das belas artes (Literatura, música...) refugiava-se na solidão de um quarto alugado, mobiliado com apenas um divã, uma cadeira e muitos livros. Sofria de depressão, de auto-aversão, de certa desilusão existencial e condenava a burguesia por seu estilo de vida medíocre e voltada, em geral, apenas para as coisas da terra. Embora se refugiasse no mundo do espírito, da elevação da alma aos lugares superiores, sofria de descontentamento consigo mesmo. Sua alma amargava o sabor de uma dicotomia interior que o estilhaçava: habitava-o um homem e um lobo em permanente inimizade mortal. O Tratado do Lobo da Estepe – Só para loucos , escrito por um autor anônimo, descreve este dilema existencial, esta dualidade do ser.
Hesse cultivava a fidelidade a literatura romântica e clássica além de tender para a análise psicanalítica em suas obras. Por todo o livro percebe-se esta tendência, especialmente, no panfleto intitulado Tratado do Lobo da Estepe, que Harry recebe como por acaso de um propagandista estranho – que logo desaparece.
Neste tratado o autor desconhecido aponta a infelicidade do homem/lobo, descreve a sua dupla natureza, sua ociosidade. Como lobo ansiava pela liberdade, pela independência, pela satisfação dos instintos. Era selvagem, perigoso e forte. Como homem era possuidor de sensibilidade, bondade, refinamento e de elevados ideais humanos. Por causa da irreconciliação desta natureza dual Harry é um homem para o qual “ a vida não oferece repouso”.
A obra foi composta sobre um tripé de análises. O homem/lobo é visto de três perspectivas: no Prefacio do Editor – na visão do sobrinho da mulher que aluga o quarto; Nas Anotações de Harry Haller: Só para loucos - na visão do próprio protagonista que em desacordo com o autor do panfleto anônimo acredita na natureza múltipla do ser humano e, por fim, no Tratado do Lobo da Estepe.
O livro embora trate de aspectos desagradáveis e incômodos da existência humana é, em verdade, uma obra de esperança de libertação. Aponta para as possibilidades riquíssimas da vida, do ser, da transcendentalidade do existir, da integração da alma fragmentada, sofrida, exausta, asfixiada pelo isolamento. Como o próprio autor deixa claro, sua obra aponta a possibilidade de redenção.
Na Nota do Autor (Posfácio) de 1961 que vem no final do livro, Hesse trata da violenta incompreensão sofrida por esta obra, por parte dos leitores. Muitos deles - que não só gostaram de sua obra, como também se identificam com o protagonista - não perceberam que além dos sofrimentos e aspirações de Harry o romance tratava de questões de maior relevância.
(...) fala a propósito de um outro mundo mais elevado e indestrutível, muito acima daquele em que transcorre a problemática vida de meu personagem. versam questões do espírito opõem-se ao mundo sofredor (...) com a afirmativa de um mundo de fé, sereno, multipersonalístico e atemporal.
(...) a história do Lobo da Estepe, embora retrate enfermidade e crise, não conduz a destruição e a morte, mas, ao contrário, à redenção.
Concordo plenamente com Hesse. A leitura atenta do livro nos relega para o alto. Somos confrontados não apenas com nossos problemas, crises e esquisitices; mas com a dimensão do supraracional, com a responsabilidade pessoal.
Harry teve a oportunidade ímpar de humanizar-se, de sair de seu isolamento profundo, de superar sua timidez e contenções mutiladoras, de rever seu passado não para lamentar, nem para culpar-se, mas para experimentar lembranças satisfatórias, gratificantes e encorajadoras. Os personagens Hermínia, Maria e Pablo foram coadjuvantes neste processo de libertação, de encontro consigo mesmo, de pacificação interior.
Este livro causa profunda impressão no espírito. Em muitos aspectos o leitor se identificará com o personagem/protagonista, para quem a vida não era fácil. Sua alma carregava um sofrimento indescritível. As pessoas à sua volta percebiam nele suavidade, educação, cultura, por outro lado, algo de estranho. Era a gravidade de seu espírito, o peso que carregava na sua alma.
Um momento de brilho na leitura se dá quando nos encontramos com a imortalidade que Hermínia tão bem descreve para Harry quando reflexivamente declara:

Os piedosos chamam-no de Reino de Deus. Penso comigo: todos nós, os que desejamos demasiadamente, os que temos uma dimensão a mais não poderíamos viver se não existisse uma outra atmosfera onde respirar além da atmosfera deste mundo, se a eternidade não existisse além do tempo; e esse é o reino da Verdade.

Um outro momento da fala de Hermínia, que muito impressiona, é quando expressa sua percepção da angústia existencial de Harry. Com perspicácia profunda detecta o quanto o mundo ao redor do Lobo da Estepe o angustia. Como este é antagônico ao seu ser sensível, e como ele anela por um outro mundo transcendente e singelo.
Esta obra é Brilhante!



Resumos Relacionados


- El Lobo Estepario

- Peter Camenzind

- A Verdadeira Histórias Dos Três Porquinhos

- O Filósofo E O Lobo

- Memória De Elefante



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia