História do Teatro de Revista em Portugal 1 & 2
(Luiz Francisco Rebello)
Ao pensarmos na origem do teatro de revista, a nossa mente e linha de pensamento espácio-temporal são transportadas para a Grécia Antiga, 5 séculos a.C. e até nos recordamos posteriormente de Aristófanes e do seu arguto humor. Em Portugal constatamos que Gil Vicente é o pai da sempre eterna, genuína e actual Revista portuguesa! Não obstante, a Revista que hoje conhecemos nasce no primeiro quartel do século XVIII, por actores italianos, descendentes da Comédia dell’Arte realizada em Paris, nos teatros de feira.
Este género de teatro não é considerado por muitos como um texto dramático. E quando se diz “muitos” refere-se por exemplo a José Régio, Pinheiro Chagas, Augusto de Lacerda que consideravam o teatro de revista prova da falta de cultura de Portugal, algo digno de um antro de perdição, sem rigor literário, nem seriedade, defendendo a ostracização da Revista.
A palavra “ridículo” transmite a essência da Revista, que se destaca pelo exagero ridículo e pela desarticulação das cenas, possuindo toda a peça vários temas e argumentos, não havendo um tema central e afastando-se, assim, do modelo aristotélico, muito embora, no início do teatro de revista, ainda houvesse o tal argumento central.
Não obstante da estrutura inconstante, a Revista possuía elementos característicos: a crítica, a caricatura do real, as cançonetas de fácil rima e, portanto, de fácil memorização e o final enfatizava os 3 actos da peça, que mais tarde passariam a ser apenas 2.
O teatro de revista funciona como divertimento (inclusive Brecht e Molière defendiam esse lado lúdico do teatro) e como sátira igualmente, criticando o estado sociopolítico e económico do país.
Félix Bermudes estruturou os actos, sendo no 1º acto a abertura e a apoteose e no 2º acto uma continuação do 1º com variedade de cenários e apoteose. O autor desta estrutura afirma que a repetição deste sistema não significa falta de imaginação, mas falta de condições económicas, cénicas, coreográficas e quadro de artistas.
Com o passar do tempo, esta estrutura transforma-se e o 1º acto possui a parte de abertura, com o aparecimento das personagens por ordem crescente de relevo, bailados, um sketch, canções incluindo algo do atractivo nacional ou estrangeiro e a apoteose. O 2º acto repete a mesma fórmula que o 1º acto, mas mais ligeira, e uma apoteose mais breve, terminando com o desfile das personagens pelas mesma ordem hierárquica.
Apesar desta estrutura, a Revista permanece aberta a uma flexibilidade estrutural.
O sucesso da Revista consegue-se através do equilíbrio do ritmo sequencial das cenas e da capacidade (e oportunidade) de improvisação dos actores.
Há quem ache a Revista reaccionária, como defendeu Adolphe Brisson, por criticar o poder e os seus detentores e por seguir as tendências do público de pequenos teatros, levando o médio e alto burguês a sentir-se ameaçado e isso levou à censura e até à proibição deste género teatral, como aconteceu na Alemanha nazi.
O público era variado, incluía espectadores desde a pequena até à alta burguesia, estando as primeiras filas destinadas ao público mais abastado. E, por isso, a Revista é considerada um espectáculo de “classe”, pois as classes desfavorecidas sentiam o conforto em ver as suas angústias e problemas retratadas e as classes favorecidas deixavam-se criticar, “mas nada que possa ferir, apenas alfinetadas”, como nota Luiz Francisco Rebello usando as palavras de Eduardo Schwalbach.
Esta sátira não põe em causa o poder (como aconteceu na altura do fascismo) e até o promoveu, aliando-se à defendida Política do Espírito que o Estado Novo (com o propagandista António Ferro) achava ser um espectáculo cheio de espirituosidade (pensava António Ferro que até mantinha boas relações com os artistas dos novos movimentos artísticos e literários). Na cabeça do Estado, a Revista não deveria ter nada de política, mas possuir uma imagem de fantasia da realidade, libertando o público do quotidiano (ou pelo menos, evitar a inevitável revolução). Sempre com a censura de vigia, a Revista passava as suas mensagens de maneira subtil ao seu público, incluindo já nos seus títulos ataques sub-reptícios e metafóricos à figura de Salazar e do seu amor ao poder, como por exemplo: Sempre em pé, O melhor do mundo, Enquanto houver Santo António, Daqui ninguém me tira, E viva o velho!, entre outras.
A Revista centra-se maioritariamente na política, mas também, claro, na sociedade, economia, literatura, artes, religião e, como a Revista está ligada aos prazeres dos sentidos, evoca também o lúdico, o sexo, o jogo, o desporto e a gastronomia.
O exotismo reporta-nos aos lugares míticos e mágicos (como o Olimpo), aos artistas estrangeiros convidados (como a artista cubana Canelina, em Cantigas ó Rosa), às festas, mulheres, vinho, comida, jogos e desportos que fazem o espectador evadir-se do quotidiano (Sorte de gaiola, Sol e sombra, etc...).
Em 1882, a revista portuguesa ultrapassa o Atlântico até ao Brasil, onde apresenta Do inferno a Paris, porém, não foi bem recebido, pois foi vista como um acto de humilhação aos cariocas do Rio de Janeiro e até a justiça brasileira interferiu no assunto.Durante o Salazarismo, tudo o que se relacionasse com a política era censurado, até esta acabar em Abril de 1974. Sorte a nossa de a política estar sempre sub-repticiamente inculcada na Revista e a sorte ainda maior é a de o público frustrado e consciente dos seus problemas, entender perfeitamente qualquer mensagem subliminar.
Para desfalcar ainda mais a Revista nesta época, artistas como Beatriz Costa e Satanela vão para o Brasil, onde iriam brilhar igualmente.
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