Redentor
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Redentor
Cláudio Torres
Os créditos de abertura já denunciam, ao tom de
O Guarani de Carlos Gomes a câmera começa a percorrer uma superfície indefinida
enquanto os letreiros luminosos desaparecem como se subissem aos céus.Assim
começa o filme Redentor: em plano detalhe, tão de perto que se torna impossível
saber bem a quem ou ao que se olha. A câmera passeia e depois de alguns
segundos finalmente a face do Cristo Redentor aparece em um primeiríssimo plano
deixando ele e o público frente-a-frente, até o título explodir em um clarão
prenunciando a artificialidade na qual a narratira será sustentada.
Após os créditos
de abertura, do plano detalhe passamos para uma câmera aérea revelando uma
lagoa com mata verde em volta e uma construção próxima a uma paisagem do Rio de
Janeiro que estamos mais acostumados a ver nos telejornais: um condomínio de
apartartamentos abandonado junto a uma favela.
Juntamente com
essa câmera aérea tem início uma narração em off do personagem Célio Rocha e
sua imagem, nas primeiras linhas já percebemos a direção não-realista de
Cláudio Torres. O personagem Célio fala e se sabe morto e começa a contar as
circuntâncias de sua morte. Caminho este que já nos primeiros minutos do filme
reafirma a ruptura com qualquer relacionamento com a realidade mimética, o
personagem já está morto, vemos seu corpo no chão quando a narração começa.
A história do
personagem se desenrola em flashback, Célio Rocha começa contar de sua infância
e de como foi seu caminho até sua morte, de como conheceu o outro personagem
principal - Otávio - o filho do Dr. Sabóia, vemos imagens em PB de sua infância
no Rio de Janeiro e sua amizade com o menino rico.
Em Redentor a
narrativa não-realista nos aparece como um delírio controlado sobre a realidade
político-social brasileira. Dessa maneira o diretor revela suas intenções de
denúncia. O mais curioso é como Cláudio Torres consegue misturar esse
denuncismo com uma narrativa não-realista.
O pacto com o espectador
parece se dar na imagem postiça dos personagens e da realidade das favelas, de
um Rio de Janeiro do passado – filmado em PB, da politicagem de Brasília. É um
jogo que se assume pois ainda que imaginativo e delirante o filme nos fala de
temas muito próximos de nossa realidade cotidiana.
Apesar de
aceitarmos o jogo do diretor, aceitamos com um certo distanciamento pois o
diretor não busca uma aproximação com o espectador pelo afeto ou idetificação,
a representação assumida no início nos dá a referencialidade de uma realidade
que será apenas aludida e nunca imitada, o Rio de Janeiro só entra na tela
através de imagens aéreas escancarando a opção pelo fake ao se parecer com
maquetes, não há filmagens em externas, Torres traz a sua fotografia da
realidade para o estúdio, mas esse é apenas um ponto de partida para nos
mostrar uma outra realidade, a da sua representação, realidade espetaculosa
pois é como se neste pontoo
realismo não desse conta do real.
Estamos sendo colocados
sempre diante de rupturas, a câmera vai de um rosto a outro, de um olhar a
outro em uma dinâmica de corte nos espaços, nos climas e nos tempos, lembramos
que aquele não é o nosso real.
Dessa maneira, pelo olhar da
ruptura, Redentor tem um ponto de encontro muito definido com o Cinema Novo,
especialmente com a dinâmica de montagem e escolha de planos de Terra em
Transe. Assim como Glauber Rocha explode e implode seguidas vezes Eldorado,
Cláudio Torres explode e implode Brasília.
Em Redentor Cláudio Torres
escancara sua alegoria, se vale do irreal, do impossível, inimaginável e até do
impagável para nos levar na viagem dentro do seu universo, filma a favela, a
cadeia e o edifício tomado como um inferno ou um abrigo de refugiados de
guerra, não há espaço para idealização como nos anos 60, aqui não há
identificação com os pobres e oprimidos vítimas do mundo.
Sua temática então parece viajar no dilema da
classe antes considerada oprimida mas que agora tem a chance de ter o mesmo que
os ricos têm: dinheiro, dinheiro, dinheiro. Vemos essa mesma classe adotar os
mesmos métodos dos ricos e corruptos na hora de dividir a riqueza: não há
dinheiro para todos mundo então que o dividamos somente entre nós.
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