Recalque sob diversos pontos de vista (Psicanálise)
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Recalque e o inconsciente:
Vemos que a noção de recalque, tomada aqui na sua origem, surge desde o início com a noção de inconsciente (o termo recalcado será, durante muito tempo, para Freud, sinônimo de inconsciente – até a definição da idéia de outras defesas do ego). Com efeito, os conteúdos recalcados escapam ao domínio do sujeito e, como grupo
psíquico separado, é regido por leis próprias do processo primário, não sofrendo desgaste da ação restritiva consciente do ego. Uma representação recalcada no inconsciente constitui, por si mesma, um primeiro núcleo de cristalização que pode atrair outras representações insuportáveis, sem que intervenha forçosamente uma
intenção consciente do ego.Recalque e as operações de contra-investimento:
O recalque é inicialmente descrito como uma operação dinâmica, implicando e exigindo a manutenção constante de um contra-investimento do ego para que não haja seu retorno. Esta operação de contra-investimento roubará energia emocional da auto-estima do indivíduo sempre que ele estiver na frente da ameaça pulsional. Nos anos de 1911-1915, Freud dedicou-se a apresentar uma teoria articulada do processo de recalque, distinguindo nele 3 momentos, contudo nós acrescentamos mais um momento, o de contra-investimento que impede seu retorno ao campo do ego.Sobre o que incide o recalque:
Como já falamos, devemos enfatizar que não é nem sobre a pulsão, que na medidaem que ela seja orgânica (ex: fome, sede, “tesão” etc.) escapa à alternativaconsciente-inconsciente, nem sobre o afeto propriamente dito. Só os representantes(idéias, imagens, emoções, sentimentos etc.) ligados a pulsão do id são recalcados. Estes elementos representativos estão fixados ao recalcado primário, quer provenham dele, quer entrem com ele em conexão fortuita.
O recalque reserva, a cada um dos representantes psíquicos, um destino distinto“inteiramente individual”, segundo o seu grau de deformação, o seu afastamento do núcleo inconsciente ou o seu valor afetivo (desagradável). A operação do recalque pode ser encarada no triplo registro da metapsicologia:
O recalque, como operação defensiva do ego, tendo como modelo a censura (superego):
Do ponto de vista tópico, embora na primeira teoria do aparelho psíquico Freud descreva o recalque como manutenção fora da consciência, nem por isso assimila a consciência à instância recalcante. É a censura que fornece o modelo desta. Na segunda tópica, o recalque é considerado uma operação defensiva do ego
(parcialmente inconsciente).
O recalque sob o ponto de vista econômico/energético:
Do ponto de vista econômico, o recalque supõe um mecanismo complexo de desinvestimentos, reinvestimentos ou contra-investimentos, incidindo nos representantes psíquicos da pulsão.
O recalque sob o ponto de vista dinâmico, conflitivo, entre id x ego x superego:
Do ponto de vista dinâmico, o problema principal é o conflito entre desejo e defesa que é motivo da ação de recalque (ideal de ego e superego), já que a satisfação de uma pulsão geradora de prazer acabaria por suscitar um desprazer, desendadeando assim, a operação do recalque.
O recalque e o nível de consciência moral/empática de cada indivíduo:
Podemos dizer que nos estágios primitivos da consciência humana, o indivíduo predominantemente egocêntrico provavelmente não possuirá uma consciência moral empática desenvolvida. Neste caso observamos uma menor cobrança dos mecanismos da censura interna e dificilmente o utilizará o mecanismo do recalque, já que nesta etapa evolutiva a sua natureza mais instintiva e predominantemente egocêntrica aceitará com facilidade as pulsões provenientes do id sem culpa, fazendo-o buscar a satisfação das suas necessidades, sem se preocupar com o consentimento social ou mesmo do seu próprio foro íntimo. Já nas fases de consciência moral mais lúcida, mais empática, na qual o indivíduo sabe o que deve fazer, segundo a sua base moral (idealizada), a ação da censura
interna será muito maior e dependendo da atuação do superego poderão ser produzidos recalques, como mecanismos de apaziguamento, pela incapacidade momentânea do ego aceitar e de elaborar os impulsos primitivos que se infiltram no campo consciente. Neste caso, o recalque consistirá numa defesa da parte moral, já que a estrutura egocêntrica do ego provavelmente ainda terá afinidade com a fonte do desejo inconsciente produzido pelo id, havendo grande possibilidade do indivíduo dar aceitação a estes impulsos com a conseqüente manifestação de atitudes contrárias a base de valores aceita como adequada para reger suas relações (ideal de ego).
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