Porquê o alcoolismo?
(Neus Fontanals; Mercè Balcells-Oliveró; Antoni Solé)
As causas do beber podem ser da mais diversa ordem, abrangendo campos que vão desde a natureza política e económica (como o preço e as facilidades ou não da comercialização do álcool), causas sócio-culturais (em algumas sociedades há maior propensão ao consumo, enquanto que noutras este é condenado - islâmica), causas relacionadas com o stress diário, problemas do quotidiano e o ambiente que rodeia o indivíduo.
Psicologicamente, o comportamento de beber tem sido explicado por várias teorias, com especial evidência para as teorias psicodinâmicas que explicam o beber como resultado de experiências e relacionamentos inicias, geralmente com um alto teor emocional. Depois temos as teorias cognitivas e comportamentais que defendem que o acto de beber é um comportamento aprendido. Finalmente temos os defensores de que a personalidade de cada um pode propiciar maior vulnerabilidade a situações de stress, ansiedade, depressão e outros, e levar ao consumo de uma substância aditiva.
O uso do álcool tem uma enorme tendência para se tornar numa dependência, que pode ser explicada por factores psicológicos e farmacológicos. O álcool é uma droga psicoactiva relativamente inespecífica que altera a função neurotransmissora e receptora, através da sua acção sobre estas. Actua sobre diversos sistemas neuronais, que por sua vez interagem uns com os outros, o que torna extremamente difícil atribuir os seus efeitos agudos a qualquer sistema específico.
O álcool pode potenciar o desenvolvimento e reforço da dependência, uma vez que:
1. É um agente ansiolítico potente que actua sobre o sistema nervoso central, reduzindo os níveis de ansiedade, o que torna o seu efeito ansiolítico recompensador;
2. Tem efeitos estimulantes/euforizantes, pois actua no sistema mesolímbico do cérebro, provocando a libertação de dopamina;
3. Tem um efeito anestésico, que ocorre devido à sua acção inibitória sobre os neuro-transmissores do cérebro humano.
O consumo crónico de álcool leva a mudanças adaptativas do SNC e a tolerância é disso exemplo. A tolerância define-se como diminuição da sensibilidade aos efeitos do álcool; compartilha muitos aspectos da aprendizagem e da memória e considera-se que a aprendizagem operante e o condicionamento clássico ou pavloviano desempenham um papel importante no seu desenvolvimento. Outras das neuro-adaptações operadas pelo consumo alcoólico é a dependência física e a síndrome da abstinência do álcool, uma vez que a adaptação do cérebro à acção do consumo é lentamente revertida aquando da sessação da ingestão. A dependência já era visível para observadores há muitos anos (Trotter, 1840) e a síndrome da dependência tem vindo a ser classificada em diversos graus de severidade; no entanto veio-se a confirmar que a síndrome é uma realidade razoavelmente validada o que não significa que todos os elementos vinculados a esta possam ser de fácil quantificação. A dependência dá-se por processos biológicos e psicológicos. A nível biológico os processos estão parcialmente percebidos, é provável que mais de um transmissor esteja envolvido na libertação de dopamina e serotamina, houve também muitos avanços sobre os aspectos genéticos, os mecanismos por detrás da aquisição da tolerância e a biologia subjacente aos sintomas de abstinência; o que ainda não está bem definido é o facto de se reinstalar a dependência em certos bebedores depois de longos períodos de abstinência. A nível psicológico a análise centrou-se na identificação de estímulos que desencadeiam o desejo ou o comportamento da busca de álcool e na alteração das respostas dadas ao estímulo, que são um aspecto de dependência (Gluttier e Drummond, 1992). Os mecanismos de aprendizagem incluem tanto o condicionamento clássico como o operante (Greeley et al., 1993). Também é provável que expectativas alteradas e outros processos cognitivos contribuam para a base psicológica da dependência.
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