O Mapinguari (Lenda do Alto Amazonas)
(J. da Silva Campos)
Dois seringueiros moravam na mesma barraca, lá naqueles fins de mundo. Um deles nunca deixava de sair ais domingos para caçar. O companheiro sempre lhe dizia: - Olha, fulano, Deus deixou os domingos para a gente descansar .Ao que ele sempre retrucava: - Mas, no domingo também se come. E sem olhar para trás, ia para o mato, onde ficava o dia inteiro.
Em um domingo, depois de muita insistência do amigo, o companheiro resolveu ir fazer uma caçada com ele. Foram e perderam-se um do outro. O que não estava habituado a tais empreitadas andou muito tempo à toa, sem acertar o caminho e já não sabia mais onde tinha a cabeça, de tão atarantado. Foi quando ouviu uns berros medonhos e estranhos, que o encheram de pavor. Subiu mais que depressa numa árvore bem alta e ficou lá em cima, quieto, imóvel, para ver o que era aquilo. Os berros foram se fazendo ouvir cada vez mais perto, até que ele pôde testemunhar um espetáculo horrendo, que quase o enlouquece de terror. Um Mapinguari, aquele macacão enorme, peludo que nem um coatá, de pés de burro, virados para trás, trazia debaixo do braço o seu pobre companheiro de barraca, morto, esfrangalhado, gotejando sangue.
O monstro, com as unhas que pareciam de uma onça, arrancava pedaços do infeliz e metia-os na boca, grande como uma solapa, rasgada à altura do estômago, dizendo bem alto em uma voz tonitruante e terrível: - No domingo também se come! Assim, o seringueiro viu a estranha fera engolir o infeliz caçador e se meter pela mata adentro, urrando num tom de voz que fazia estremecer toda a floresta:
- No domingo também se come!
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