Luzes da Cidade
(Daniel Dalpizzolo)
Apontada por muitos como sendo sua obra-prima, essa produção de Chaplin é tão simples que, por alguns, pode ser considerada até mesmo simplória. Porém, o filme passa longe disso. É um conto de amor bastante simples, mas construído com uma paixão tão intensa que se torna uma fita apaixonante, como poucas feitas até os dias de hoje. Também possui fortes traços da genialidade cômica que marcaram todas as produções de Carlitos, acrescentando momentos hilários em meio à trama doce, leve e comovente.
A história do filme faz uso do icônico personagem do Vagabundo, que, desta vez, se apaixona por uma florista cega. A moça, em razão de um mal entendido, acredita que ele seja rico, e Carlitos tenta fazer de tudo para manter essa “imagem”. Aproxima-se de um ricaço, que tentara suicídio e fora salvo por ele, e começa a gozar de todas as suas regalias, procurando sempre encontrar um modo de ajudar a pobre moça, ora com dinheiro, ora com carinho. Ao saber que um médico havia descoberto a cura para a cegueira, Carlitos faz de tudo para conseguir o dinheiro necessário ao pagamento da operação, mesmo que, para isso, precise trabalhar ou até mesmo disputar uma luta de boxe.
Em Luzes da Cidade, Chaplin demonstra um amor transcendental a respeito do mundo, uma visão romantizada do ser humano e da própria vida. É um filme que exala inocência e ternura em cada centímetro de celulóide, sem deixar que o melodrama adentre suas entranhas e transforme tudo em um simplório emaranhado de cenas que visam à manipulação emotiva do espectador.
A genialidade de Chaplin na composição do filme não se resume apenas ao equilíbrio emocional e à inocência de sua narrativa. Nele, um dos grandes méritos do diretor é a forma como consegue demonstrar fluência e, ao mesmo tempo, economia na transcrição de sua maneira de contar histórias, durante um período no qual o cinema passava por um momento de mudanças abruptas em sua composição.
Embora não tenha incluído sequer uma linha de diálogo durante toda a metragem da obra, Chaplin utiliza o som como um elemento imprescindível de sua narrativa. Em uma das cenas com maior potencialidade cômica do filme, Carlitos engole um apito, e constatamos a grande influência dos efeitos sonoros no resultado final da obra. Certamente a falta do elemento sonoro desvirtuaria a cena, e tornaria seu significado extremamente dúbio ao espectador, já que é o tal apito que constitui grande parte dela - e não seria um inter-título explicando a cena que concederia graça ao momento sem a presença do som, que é a única característica do tal apito que poderia ser transmitida a quem assiste ao filme.
Este não é o único momento da obra no qual Sir Chaplin inclui elementos sonoros em meio à estrutura de filme mudo. A começar pela trilha-sonora, composta pelo próprio diretor, que pôde ser incluída diretamente na película e fazer parte de sua narrativa, acrescendo ainda mais em charme romântico a história que, por si só, já é um trabalho de encher os olhos de lágrimas. É uma música belíssima, da qual seus acordes certamente permearão a mente do ouvinte durante um bom tempo. Mas, afora a música, outro bom exemplo é a cena da luta de boxe, onde a campainha de chamada também é simbolizada pelo som - e começa a tocar incessantemente depois que Chaplin tenta ficar abraçado ao seu adversário, ao juiz e a praticamente todos os envolvidos na luta.
Enfim, Luzes da Cidade não apenas é o filme mais comovente de Chaplin, como também uma das fitas mais importantes de sua carreira. Servindo como uma espécie de marco em sua filmografia, já que é a primeira obra, feita por ele, após o advento do cinema sonorizado e falado. Mas também serve para demonstrar que a insistência de Chaplin em não aderir aos “talkies” não era pura implicância, mas sim uma escolha fundamental na carreira de um dos mais relevantes artistas do século passado, e, por que não, de toda a história. Uma demonstração de inteligência pura que só poderia ser provinda da mente de um gênio.
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