BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Morte
(Maria Elisa Pessoa Labaki)

Publicidade
O diagnóstico de HIV positivo, que na década de 1980 e início dos anos 90 era como um atestado de óbito antecipado em apenas alguns meses por doenças até simples mas mortais devido à imunodeficiência promovida pelo vírus, fazia com que seus portadores, de uma hora para outra, caíssem “no real”.
Como manejar a clínica psicanalítica diante de questão tão vital? Diz-se aqui “do real”, sem palavras, que não pode ser elaborado, porque no antes e no depois a morte não tem nome nem nunca terá. Impossível imaginar, impossível simbolizar- Real, Simbólico e Imaginário são citados aqui levando-se em conta os conceitos do psicanalista francês teórico e clínico Jacques Lacan.

Sem teorizar com base em Lacan, mas muito mais por Sigmund Freud, em especial no que toca à angústia automática e à angústia-sinal, a psicanalista Maria Elisa Pessoa Labaki nos mostra no livro “Morte”, de 103 páginas em formato aproximado de um pocket, que muito antes do atestado de óbito assinado pela Aids está a pulsão de morte preponderando sobre a pulsão de vida que possivelmente atravessa a vida dos portadores de HIV- daquela época; e eu diria, desta também. Como se chega a este conhecimento? Escutando os portadores para além do sintoma.

A beleza do que nos conta Maria Elisa está no que há de limite humano, por ser (o ser) da cultura e nisto haver ou não algum sentido (e de sentir-se) diante do irreparável. É o desespero e o despreparo do escutado e, igualmente, os dois sentimentos em forma de impotência de quem escuta.

A saída, parece, é escutar o viés, o que envereda para o antes, já que o presente e o futuro talvez se façam destituídos de palavras, não há mais (o que ser e o que a dar) sentido. Isto, sem chances de apelação à auto-ajuda que diria: “desde que nascemos somos pacientes terminais”. Sim, somos. E? Em psicanálise, costumamos dizer que nascemos e morremos sós, esta é uma realidade, embora nos iludamos sobre estar com este e aquele, muitas vezes para não estarmos conosco. A precisão de um espelho, mesmo impreciso, distorcido, parece nos lembrar vagamente e muito nos distrair de nós mesmos, dos nossos desejos. Como diz o poeta, viver é perigoso. E dói.

Viver implica desejo e, este, prazer e desprazer. Porém, talvez não haja castração maior e pior do que saber da inexorável própria morte, assim, quase com dia marcado. E, diante disso, nada a fazer.

Mas, bem antes, muito antes, o que assombra talvez seja o abandono: desamparo em relação a um objeto primário, em especial à mãe ou sua substituta, e que se repete ao longo da vida (separação do outro e de si mesmo), sem representação, mas que se concretiza na separação real (de si e do outro): a morte. Possivelmente, este seja o impacto inconsciente de um diagnóstico mortífero.

Por esta via, Maria Elisa nos leva a perceber que a morte simbólica dos condenados talvez tenha se dado muito antes do diagnóstico. Em um dos últimos capítulos, após detalhar teorias bastante complexas, em especial sobre a angústia de separação, a autora descreve em uma vinheta o caso de um rapaz diagnosticado que cometeu suicídio.

Por hipótese, a angústia não deu conta de suportar a dor do terror inominável do seu porvir (a separação “no real”). E o paciente parece ter dado conta do que foge ao sentido, reunindo as últimas forças de um frágil ego para resolver por si e só o seu destino. ..............................................Sobre a autora: Maria Elisa Pessoa Labaki é psicóloga e mestre em Psicologia pela PUC-SP. Psicanalista e membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e professora do curso de Psicossomática no mesmo instituto; professora e supervisora da Universidade São Judas Tadeu. O livro "Morte" está na terceira edição.



Resumos Relacionados


- Freud 150 Anos

- Quando Nietzsche Chorou

- Mal-estar Na Atualidade E As Novas Formas De Subjetivação

- O Que Não Queremos Saber.

- O Que Diferencia Psiquiatria, Psicologia E Psicanálise?



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia