Estação Carandiru 
(Dráuzio Varella)
  
Neste livro o médico Dráuzio
 Varella relata suas experiências pessoais no relacionamento com presos e
 funcionários de cada pavilhão da Casa de Detenção de São Paulo, o maior
 presídio do Brasil, situado no bairro do Carandiru e que abriga mais de 7200
 presos. É relatado mais os aspectos sociológicos do que os propriamente ligados
 à área médica. Seu trabalho de pesquisa de prevenção à AIDS deu–lhe a
 oportunidade de conhecer esse lugar. É um mundo diferente, dentro do mundo dos
 cidadãos livres.
 
 Lá, as normas legais devem ser cumpridas por força da segurança e da lei,
 e há outras normas criadas pelos presidiários que devem ser rigorosamente
 cumpridas. Qualquer transgressão é castigada com espancamento e, dependendo do
 caso, até com a pena de morte, tornando–se os prisioneiros seus próprios juízes
 e algozes tendo como base as leis por eles mesmos criadas.
 
 Existem regras básicas para cada pavilhão. Exemplo: art. 213 – estupro – é
 encaminhado para o pavilhão cinco; reincidentes, no oito; primários, nove.
 Também para o pavilhão quatro são encaminhados, por questão de segurança, os
 estupradores, os justiceiros contratados por comerciantes para matar ladrões.
 Ali, têm mais chance de escapar ao linchamento. Rraríssimos os universitários.
 Eles moram nas celas individuais do pavilhão quatro. Este, deveria abrigar também
 o Departamento de Saúde e Enfermaria. Mas, por necessidade de proteção aos
 marcados para morrer, a direção foi obrigada a criar um setor especial,
 denominado “Masmorra”, de segurança máxima. É o pior lugar da cadeia. Sem banho
 de sol, trancados o tempo todo para escapar ao crime. Convivem com ratos e
 baratas, aglomeração e poluição de cigarros. Há ainda aí uma galeria para Doentes
 Mentais. Por falta de serviço especializado em psiquiatria, o critério para a
 identificação de DM é incerto e a medicação é praticamente igual para todos.
 
 O pavilhão cinco é o mais populoso da cadeia. Com 1.600
 homens, o triplo do que o bom senso recomendaria. Nele moram os presos
 integrantes da faxina, encarregados da limpeza geral e de distribuição de
 refeições, os que trabalham nos patronatos e no judiciário. No quarto andar ficam
 os que foram expulsos dos outros pavilhões devido a maus procedimentos ou
 derrota em disputas pessoais, além de outros estupradores e justiceiros.
 
 Mesma rotina. De manhã, às cinco horas, os carcereiros do noturno fazem a
 contagem em cada cela para ver se alguém não fugiu ou morreu. Em seguida é servido
 o café da manhã nas celas. Depois, são liberados para o banho de sol,
 atividades esportivas e de trabalho. Às dezessete horas todos são recolhidos, e
 às dezenove e trinta, trancamento. Tudo é muito rápido, ninguém pode ficar de
 fora, vacilou na primeira vez tem o nome anotado. Na reincidência, são trinta
 dias de castigo na “Isolada.” Apesar de presos e isolados, há dias em que os
 encarregados recebem as visitas de familiares. Isso acontece aos sábados para
 uns, e aos domingos para outros. As visitas trazem filhos menores, cigarros,
 comida, revistas, etc. Tudo revistado na portaria. Trazer droga para o
 presídio é um grande risco. Os que fiscalizam parecem cães farejadores.
 
 A partir dos anos 80, foi aceita a prática das visitas íntimas com mulheres
 de maioridade comprovada, previamente registradas com identificação e foto.
 Cada detento tem direito a inscrever uma única mulher. Não há exigência de
 laços legais, podendo ser esposa, amásia, ou namorada. O ambiente é de muito
 respeito. Quando um casal passa, todos abaixam a cabeça. Ninguém ousa
 desobedecer esta regra, seja ela a esposa, noiva ou uma prostituta. Como médico
 infectologista, o Dr. Dráuzio e sua equipe entrevistaram e colheram amostras de
 sangue de 2492 detentos e constataram que 17,3% dos presos da casa de detenção
 estavam infectados pelo vírus HIV. Os fatores de risco eram: uso da cocaína de
 parceiros sexuais. Dos 82 travestis analisados, 78% eram portadores do vírus.
 Foi organizada uma campanha de esclarecimento sobre prevenção da AIDS.   
 
 A desconfiança com alguém de fora que entra na casa de detenção é
 generalizada. Para os funcionários, pode ser alguém ligado a Associação dos
 Direitos Humanos, pessoal da Imprensa ou com interesses políticos. Todos estes
 são pessoas indesejáveis à Administração. Jornalistas e repórteres não
 são bem vindos. Os presos fogem das objetivas como o diabo da cruz. Só se
 aproximam deles para denunciar superlotação, espancamento, etc.
 
 Mas, nem tudo lá é malandragem e barbárie. Religiosos, frequentam o presídio
 para converter a Deus as ovelhas desgarradas. A crença na ajuda Divina é para
 muitos presos a derradeira esperança de conforto espiritual capaz de ajudá-los
 a estabelecer alguma ordem no caos de suas vidas. A pregação dos pastores
 evangélicos, que apontam os caminhos do céu pelo conhecimento da Bíblia e de
 uma divisão clara entre o bem e o mal, obtém sucesso e acolhe muitos
 seguidores. Destaca-se na casa o grupo coeso da Assembléia de Deus que congrega
 cerca de mil fiéis. Também entre eles, o código de comportamento é severo. 
 
 Varella analisa a questão do crack que invadiu a cadeia em
 meados de 1992. Mas, nem só de trabalho ligado a auto- destruição se ocupa o
 preso. Há atividades produtivas que contribuem para a recuperação do
 encarcerado incentivadas pela própria administração. Algumas empresas empregam
 mão–de–obra local para costurar bolas de couro, chinelos, colocar espiral em
 cadernos e similares. Há também uma economia informal. São os que lavam roupa
 para fora, costuram, cortam cabelos, constroem barcos a vela com distintivos,
 etc
 
 Relata também a questão da super população. O sofrimento do preso é grande.
 Mas, mesmo diante de tanta brutalidade, ele tem momentos de sentimentos nobres:
 o carinho para com os filhos e parentes nos dias de visita, o respeito pelos
 familiares dos companheiros, a invocação da mãe quando em situação de dor
 física. Finaliza com o trágico acontecimento denominado "matança do Carandiru"
 cujo saldo da operação policial foram 111 detentos mortos. 
 
  
 
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