Poesia de Mario Quintana
(Heitor Ferraz Mello; Mario Quintana)
A poesia de Mario Quintana sempre chega como uma espécie de sussurro. A palavra é soprada num tom baixo, numa voz comum que mão pretende, jamais pretendeu, ultrapassar certos limites de educação e civilização.
Quintana faz parte daquele grupo de poetas que não teve a pretensão de gritar por sobre o muro do seu rancor, o seu ódio às transformações vertiginosas do século XX. Enquanto as cidades se modernizavam rapidamente, o poeta, na sua imaginação, as reconstruía em seus velhos costumes e modos de viver, como se sonhasse com um lugar mais acolhedor e mais provinciano. Mas é nesse seu tom menor, nessa negação irônica da modernização, que a utopia se revela. Revela-se na nostalgia de uma época em que todos eram pequenos trabalhadores e que viviam num mundo comum e solidário: o sapateiro, o carpinteiro e o poeta, “operário triste”, que registrava o cotidiano coletivo. Como ele mesmo escreveu em um de seus sonetos de A rua dos Cataventos: “Eunada entendo da questão social. Eu faço parte dela simplesmente...”.
A solidão, traço frequente dessa poesia, palavra que ganha matizes coloridos nos seus versos, não é a solidão destruidora do poeta romântico que, incompreendido pela sociedade, não encontra outra saída a não ser a morte. Em Quintana, a incompreensão não é uma barreira intransponível. Ele a transpõe, procurando, com seus versos, a integração entre os homens; é o sonho de uma vida mais humana, mais pura, mais próxima, mais verdadeiramente afetiva. É um entendimento para além do dogmático, da questão social.
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