O Sapo e o Urubu na Festa do Céu
(Fábulas Brasileiras)
Antigamente, num tempo que já ninguém lembra, se faziam muitas festanças. Houve uma festa no céu e foram convidados todos os bichos da terra.
O urubu, violeiro afamado, não faltaria, pois as danças dependiam de seu talento.
O urubu que é um bicho que vive com os pés sempre sujos, foi lavá-los na lagoa quando avistou um sapo-untanha quase dormindo.
– Como é, compadre cururu. – disse o urubu – Você não vai à festa do céu?
Em nheengatu, língua dos bugres, cururu é o nome do sapo. O urubu só aprendeu a língua dos índios, a nossa não.
O sapo abriu bem os olhos e disse:
– Irei logo, estava tirando uma soneca para poder me divertir a noite toda. Tomei um banho, quase me afoguei, por isso estou aqui me secando ao sol, descansando para a função, quero bater o pé até o sol raiar.
Enquanto o urubu se lavava, o sapo, sorrateiramente entra na viola do seu compadre. O crocitador apanhou a viola e alçou vôo para a festa. Voou, voou, voou...
Chegando ao céu é recebido com ruidosa manifestação pela bicharada que lá por cima, já se achava. Os bichos estavam-no esperando para dar início ao cateretê.
Antes, porém, convidaram-no para tomar um quentão, deixando sua viola num canto do salão. O sapo saiu da viola sem ser visto por ninguém enquanto todos estavam distraídos com a recepção ao violeiro. Saiu pulando e acabou chegando primeiro do que todos na barraca dos comes e bebes.
Efusivo recebeu o compadre urubu, que estranhou:
– Ué compadre cururu, já por aqui?
- Pra lhe servir, meu compadre urubu. Tome esta, que já faz tempo que estamos esperando pelas quadrilhas bem marcadas, que só você sabe marcar. Em cateretê, nem se pensou, faltava a viola. Eu nem deixei que o sanfoneiro começasse as quadrilhas sem você. Contei pra bicharada que o meu compadre estava bebendo água na lagoa e que viria logo.
O urubu virou a tigelinha de quentão e estalou a língua.
O baile prolongou-se até ao despontar da manhã. O cururu fingiu-se de cansado, de pernas bambas, passou gingando na frente do compadre, foi contando que iria dormir mais cedo e, bocejando, desapareceu.
O urubu andando com aquele passo de quem está cumprimentando, despediu-se da bicharada, apanhou a viola, enfiou-a no saco e regressou à terra. Falou com seus botões:
– Mas que viola pesada! Toquei a noite toda e não estava assim. Será que estou muito cansado?
Voou mais um pouco, procurou averiguar. Dá uma sacudidela e eis que vê lá dentro o cururu refestelado.
– É você que está ai, seu malandro? Pois de agora em diante não me logrará mais, vou lhe pregar uma peça.
Vira a boca da viola para baixo, procurando desvencilhar-se do intruso.
O sapo, com os olhos arregalados de medo, vendo que ia se esborrachar no chão, gritou:
– Me jogue em cima de uma pedra, não me atire na água que eu me afogo.
O urubu ficou branco de raiva, olha e vê pouco distante ainda uma lagoa, e pensa lá com seus botões: "Este trapaceiro sem-vergonha me paga, vou dar-lhe uma lição de mestre".
Voa até à lagoa e zás, derruba seu compadre.
Crocitando e com os olhos chispando de raiva diz:
– Pois você agora me paga, seu cara feia, agora o afogo!
E assim atirou o cururu à lagoa. O espertalhão do cururu, lá do fundo da lagoa saiu rindo e dizendo: – Enganei o bobo na casca do ovo.
E foi assim que o cururu foi à festa do céu embarcado na viola do urubu.
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