As Parceiras
(Lya Luft)
Anelise
faz uma análise do passado, para buscar nas suas raízes, uma melhor compreensão
da saga das mulheres de sua família, mostrando histórias vividas por todas. Para
isso ela vai passar uma semana na casa de veraneio da família, após perder seu
último filho. Ela se encontra afundada em pessimismo total, mas é levada do
abismo ao ápice de sua vida, em meio às ondulações que lembram o movimento das
ondas do mar, então ela se apresenta no início uma vítima da situação e no
decorrer dos dias, ela vai crescendo e se afirmando, e termina uma heroína de
sua própria vida.
Ela
joga o tempo todo com as outras personagens, voltando a sua infância e trazendo
também a vida adulta, mostrando numa auto-análise, se as ações do passado foram
coerentes ou se poderiam ter sido melhores. Ao fazer esse jogo entre o passado
e o presente ela descobre a verdadeira vida, e as prisões que as mulheres de
sua família viveram. Anelise vai passar a semana no chalé da família, em um lugar
frio, sombrio sem vida, lá ela se detém às suas lembranças conturbadas e tristes.
O
romance tem início num domingo em meio às lembranças de Anelise sobre sua avó
Catarina, matriarca da família. Retornando à infância, Anelise lembra que não
via muito a avó, pois ela vivia trancada no sótão. Catarina faz desse lugar o
retorno a infância roubada e a busca do amparo maternal negado, sem que ao
menos tivesse tempo de amadurecer sua puberdade, isolada de todo o terror que
tinha sofrido pelo seu marido.
O
avô de Anelise representa todo o machismo, a brutalidade e a ignorância que o
homem precisava ter para ser respeitado. Catarina foi uma vítima do preconceito
existente na sociedade, casara ainda menina, não sabia direito o que
aconteceria na noite de núpcias, em sua primeira noite de casada foi caçada feito
um animal, e possuída de maneira cruel e hostil e daí por diante todas as
noites ele a procurava feito um animal faminto, caçava-a como sua presa, eram
momentos de horror e torturas, ela se tranca no sótão e se isola do mundo, criando
um mundo só pra ela.
Em
meio a essa brutalidade, Catarina deu a luz a quatro meninas que eram reflexo
do seu sofrimento: Beatriz, que ficara uma viúva frustrada, pois seu esposo não
cumpriu seus “deveres” de marido, então, como se fosse ela a culpada, passou a
se esconder atrás da igreja se tornando uma beata. A outra era a mãe de
Anelise, que vivia a sombra do marido, e as filhas ficavam por conta das
empregadas; tinha também Dora, que tentava levar a vida diferente, mas que não
conseguia fugir da saga da família, pois ela tinha um filho (adotado) homossexual,
e se chamava Otávio, além de não ter um marido o seu filho não tinha uma
masculinidade viril, como “mandavam” os preceitos sociais, o que a deixava
também excluída e envergonhada. Por fim a outra irmã, Sibila, que foi concebida
em meio a um estupro e por isso foi rejeitada, pois Catarina não sabia mais distinguir
a realidade do imaginário.
Anelise
se sente traída pela vida, pelo destino, por nascer naquela família.
Da
sua infância, Anelise se lembra da amizade com Adélia, da fraternidade
exagerada que existia entre as duas, das brincadeiras, das risadas, das férias
que passavam juntas no chalé, das visitas ao cemitério, [...] “ela foi o
primeiro amor da minha vida, numa idade em que as almas interessam muito mais do
que os corpos” Adélia representava tudo
que ela não tinha em sua família, carinho, amor, alegria, o lado bom da vida.
Ao despertar da adolescência, ela percebe que aquela pureza existente foi se
diluindo e sua inocência foi se acabando, e com isso, Adélia some numa morte
simbólica.
A
parceria das mulheres do romance, de sentirem dores vindas das mesmas raízes faz
de Anelise heroína de sua vida. Ela fez da dor, seu escudo e sua espada para
lutar com as sombras, projeção de seus anseios, ou desejo de libertação. Porém
parceiras na vida dela foram a morte e a vida. Essa dualidade, vida/morte da
alma com a carne, do interior e o exterior, tornaram a protagonista uma
verdadeira incógnita, seu psicológico sempre estava em verdadeiras ondulações,
mas que, por fim, encontra a paz na revelação da sombra que a cada sofrimento
se aproxima mais e mais dela, sua avó foi sempre sua sombra, pois são parceiras
pela dor.
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