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Que Farei Com Este Livro?
(Cinthia Renata Gatto Silva)

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No
texto Saramago revisita a história expondo à atualidade como foi o retorno de
Camões da Índia. A ação decorre em Almeirim e Lisboa, entre Abril de 1570,
entre a chegada de Luís de Camões a Lisboa, vindo da Índia e a publicação da
primeira edição de Os Lusíadas.

Na
peça, Camões tem de enfrentar inúmeros obstáculos que dificultam a publicação
de sua obra maior, Os Lusíadas. Os obstáculos dizem respeito ao jogo de
interesses políticos: tem-se um Portugal fragmentado por interesses muito
opostos. Lisboa está praticamente dilacerada pela peste, o rei dom Sebastião
deixa Portugal em mãos alheias. De início, assistimos ao diálogo entre os
irmãos Câmara, um confessor do rei, o outro, secretário de estado. Nas frases
dos personagens, percebemos que Saramago utiliza perspicaz ironia para que
sejam eles próprios a denunciar-se. Exemplificamos com uma fala de Luiz da
Câmara, comentando sobre a peste, que no momento mata milhares de pessoas em
Lisboa, “a arraia miúda” é a mais atingida pela peste, e o Jesuíta a distingue
do Clero e da Nobreza rompendo com os pressupostos cristãos, ao dizer: “Nosso
senhor receba as suas almas e nos defenda a nós da contagião”

Os
interesses em relação ao futuro de Portugal são diversos e opostos, não há uma
coerência de pensamento. Nos dois primeiros quadros, os irmãos Câmara já
mencionados, Dona Catarina (avó do rei) e o Cardeal (tio) falam sobre o Rei e o
futuro de Portugal. Suas idéias são diversas e nenhum desses personagens está
seguro de que o país se direciona a um futuro próspero.

O
poeta volta da Índia sem saúde, sem dinheiro e até mesmo sem alegria, pois
voltou da Índia sem nenhum bem, enquanto muitos lá conquistaram fortuna; além
disso, ele já percebera os caminhos perigosos pelos quais se direcionava a sua
nação.

À
beira da miséria, Camões vê a sofredora mãe que o esperou por 17 anos prestes a
não ter o que comer e sua Lisboa no caos e muito próxima de cair
definitivamente, por isso se sente desolado e não é nem a sombra do que fora,
mas tem em mãos um poema cujo valor não desconhece. Ele próprio diz: “não há
nada que mais deseje no mundo que ver o meu livro publicado”, livro este que, se publicado, poderia não
somente resolver sua situação financeira, mas também se erguer como voz
representativa, louvar Portugal pelos seus feitos, valorizá-lo e prescrever-lhe
um caminho.

O
resgate histórico feito por Saramago é bastante preciso. Dos vinte e quatro
personagens, dezesseis realmente foram contemporâneos de Camões, o que cria um
efeito de verossimilhança. Além disso, a linguagem da obra é arcaizante para
retratar a linguagem da época.

No
quinto quadro, Camões se dirige à sala de Paço na tentativa de encontrar alguém
que interceda por ele fazendo chegar os seus versos ao rei. Como a resposta de
Martim da Câmara é bastante indefinida, e Camões descobre que o rei vai passar
entre eles a qualquer momento, decide interceder por sua conta. Ao ver o rei,
adianta-se, põe um joelho no chão e diz para espanto de todos, diante do rei,
que havia escrito um livro que honrava seus antepassados e as navegações do
povo português, pedindo para que o rei escute algumas oitavas de seu poema.

(D.
Sebastião, que tem ouvido indiferente, avança para o outro lado e retira-se,
levando atrás de si todo o séquito. Camões permanece como estava, com um joelho
em terra, segurando os papéis abertos. Não repara que uma mulher antes de sair,
se voltara para trás, a olhá-lo. Põe-se de pé. Parece acordar).

Nessa
passagem percebemos que o rei não pretende perder seu tempo ouvindo um poema, e
por isso se retira sem dizer nem uma palavra. Na realidade, essa é a única
aparição do rei na peça e ele não pronuncia nem uma palavra, o que convém a um
mito. Deve-se ainda ressaltar a figura momentaneamente sem nome, da mulher que
se volta para trás e olha Camões. Ela é Francisca de Aragão, uma antiga amante
do poeta, que vê reviver o amor que sentiu no passado ao vê-lo. Os dois voltam
a ter um romance, e Francisca, sendo uma dama do paço, tem um papel importante
na publicação do poema.

No
sétimo quadro, Camões procura o conde de Vidigueira para pedir-lhe proteção ao
poema, pois a obra honra o seu avô. No entanto, o conde avalia o assunto como
“negócio de pouca monta” e diz:

Sois
poeta e bem falante, senhor Luís Vaz. Ficai com a glória do vosso bem falar e
bem escrever, que a casa da Vidigueira não precisa de quem lhe cante as
glórias, ou pagará a encomenda que fizer para lhas cantarem. E eu não me lembro
de vos ter encomendado este trabalho. (entrega os papéis a Luís de Camões, que
os recebe.) Podeis retirar-vos.

A
postura do conde demonstra mais uma vez como a obra de arte autêntica era
desvalorizada e banalizada na época.



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