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Bebendo Jurema ou Festa do Ajucá
(Carlos Estevão)

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A
festa é da jurema ou do ajucá. De caráter reservado, por ser essencialmente
religiosa, nem todos os habitantes da aldeia podem a ela comparecer. A meu
pedido, o velho Serafim prontificou-se a realizar uma, de dia, consentindo que
eu assistisse. No dia marcado, muito cedo ainda, deixei o Brejo e fui ter à
casa do velho Serafim. Lá chegando, verifiquei que o chefe já se achava no
lugar em que a festa se realizaria.

Dirigi-me
para onde ele estava indo encontrá-lo preparando o ajucá, a bebida milagrosa,
feita com raiz da jurema. Assisti a todo o seu preparo. Raspada a raiz, é a
raspa lavada para eliminação da terra que, porventura, nela esteja agregada,
sendo, em seguida, colocada sobre uma pedra. Com a maceração completa, bota-se
toda a massa dentro de uma vasilha com água, onde é espremida com as mãos.
Pouco a pouco, a água vai-se transformando numa calda vermelha e espumosa, até
ficar em ponto de ser bebida. Pronta para este fim, dela se elimina toda a
espuma, ficando inteiramente limpa. Nesse ponto, o velho Serafim acendeu um
cachimbo, feito de raiz de jurema, e, botando na boca a parte em que se põe o
fumo, soprou-o de encontro ao líquido que estava na vasilha, nela fazendo com a
fumaça uma figura em forma de cruz.

Logo
que isso foi feito, o filho do chefe, colocou a vasilha no solo, sobre duas
folhas de uricuri, que formavam uma espécie de esteira. Em seguida, todos que
ali se encontravam, inclusive duas velhas cantadeiras, sentaram-se no chão, formando
um círculo em redor da vasilha. Ia começar a festa. O chefe e mais dois
assistentes acenderam seus cachimbos. Ninguém falava. Um ambiente de
religiosidade formara-se. Os cachimbos, passando de mão em mão, correram toda a
roda. Quando voltaram aos donos, uma das cantadeiras, tocando o maracá,
principiou a cantar. Era uma invocação à Nossa Senhora, na qual se pedia paz e
felicidade para a aldeia. Depois, vieram as toadas pagãs dirigidas aos
encantados. De vez em quando, no decorrer da cantiga, ouviam-se, os nomes de
Jesus Cristo, Deus, Mãe de Deus, Nossa Senhora, Padre Eterno e, às vezes,
também, o nome do padre Cícero.

Em
uma das toadas, a cantadeira, dirigindo-se a Nossa Senhora, agradeceu a minha
presença na aldeia e rogou pela minha felicidade. Enquanto isso, o caboclo que
colocara a vasilha sobre as folhas, respeitoso e solene, ia distribuindo pelos
demais a bebida mágica que transporta os indivíduos a mundos estranhos e lhes
permite entrar em contato com as almas dos mortos e espíritos protetores.
Aquele que recebia a vasilha, com a máxima reverência sorvia alguns goles do
ajucá. Ao chegar a vez da primeira das cantadeiras, esta levantou-se, recebeu a
vasilha, ergueu-a com as duas mãos sobre a cabeça e, olhando para o alto,
recitou uma oração em voz baixa. Depois, sentando-se, bebeu o ajucá.

Terminada
a distribuição, o distribuidor, ajoelhando-se, sorveu um pouco da bebida. O
resto foi posto num buraco, preparado para aquele fim. Todas essas cenas
passaram-se ao som das cantigas e ao toque dos maracás. Quando uma cantadeira
cansava, a outra principiava. Os cachimbos percorriam o círculo, passando de
mão em mão e de boca em boca. Ao terminar, homens e mulheres puseram-se de pé.
As cantadeiras começaram então, com os maracás, a benzer todos os presentes, um
a um, sempre cantando. A primeira quando me benzeu pediu a Deus por mim e fez
preces pela minha ventura. A outra, no ato de me benzer, fez também a mesma
coisa, dirigindo-se porém, a Nossa Senhora e me chamando "Caminhador das
Aldeias". Em seguida, mandou chamar e benzeu todos que se encontravam por
perto e não tiveram permissão para assistir ao ritual. Por fim, as duas
despediram-se, fazendo protestos de solidariedade ao chefe.



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