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Calcinhas Secretas
(Inácio de Loyola Brandão)

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Caminhando pelas ruas congestionadas de camelôs um homem para diante de uma banca onde se vendem calcinhas femininas de todos os tamanhos e modelos. A vendedora lhe oferece uma diferente, uma preta aberta na frente e duas de renda. Ele hesita e compra juntamente com dois sutiãs. E foi almoçar no restaurante popular, tomou dois chops, comeu um bauru. Foi ao cinema assistir Máquinas Mortíferas com Mel Gibson num canto solitário.Vibrou com as lutas, os tiroteiros. Abriu o pacote e tirou uma calcinha pendurando-a no braço da cadeira. Pegou um sutiã e colocou no banco saindo dali.O filme terminou, acenderam-se as luzes e o público começou a sair. Suspense. Ele no final da fila.Uma mulher viu a calcinha e cutucou o companheiro. Ambos riram e fizeram piadinhas. Logo diversas pessoas também viram e começaram as gozações. Uns comentavam bem, outros desaprovavam o gesto. A policia do cinema foi chamada. O lanterneiro também que foi lá e pegou as peças, levou-as perto dos olhos e ficou parado. Não sabia o que fazer. O policial criticou, achou uma sem vergonhice, o gerente concordou. Começou uma nova sessão.O lanterninha e o policial realizaram rondas ostensivas, olhavam os casais.Queriam descobrir o mistério.Alguém protestou e eles pararam. O homem dono das peças sentou-se num banco, sozinho e repetiu a cena anterior.Tirou uma calcinha deixando-a sobre a cadeira, o sutiã pendurado saindo dali.Terminou a sessão e novo tumulto. O homem ria enquanto o policial e o lanterninha protestavam querendo chamar mais policia para revistar as mulheres e ver quem estava sem as peças íntimas. Mudou de cinema e refez a operação. um sucesso novamente. Desta vez havia um jornalista presente que escreveu na sua coluna. O cinma lotou e a cena foi refeita. Grande suspense tomou conta do bairro. O homem voltou á banca da nordestina e comprou mais calcinhas e sutiãs. Ela ficou intrigada com isso. Será que eram para ele mesmo? Seria um tarado, uma tara? Que tipo de uso ele fazia com elas?Visitou todos os cinemas deixando as peças. O bairro já não falava em outra coisa. Esgotados os cinemas foi ao shopping os resultados mais surpreendentes.Escandalos, excitação das jovens, sonho dos homens, piadas, tudo acontecia. Mudou de foco. Espalhou calcinhas e sutiãs nos ônibus, restaurantes, metrô, portas de cursinho, prédios elevadores. Comentou-se na tv, nos rádios, debates foram travados. Enquanto isso ele colecionava recortes, cola em álbuns, todas as matérias relacionadas ao assunto. E de sua janela ele contempla a cidade, é um privilegiado, dono de um segredo que intriga a todos e nem percebe a dor da solidão em que vive e já se impregnou nele.



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