Um império de larvas pulsantes
(Aluísio Azevedo)
Eu confesso: foi leitura obrigatória na época do colégio e, bem, eu não li. Achava o maior pé no saco qualquer clássico da literatura, assim como uma parcela expressiva dos jovens da minha faixa etária. Um professor meu dizia - e ainda deve dizer por aí - que é idiotice impor aos alunos do 1º grau leitura de clássicos; é que falta maturidade, então já é de se esperar que a flor da idade dê preferência a fantasias bem menos eruditas.Pois hoje minhas preferências são outras, e foi aí que devorei O Cortiço. A temática, não vou mentir, me desinteressa deveras: conta a vida dos miseráveis moradores do cortiço São Romão, um amontoado de casinhas recheadas de trabalhadores da pedreira e lavadeiras com suas dúzias de filhos escandalosos.João Romão, o fundador daquele verdadeiro império de larvas pulsantes (como o próprio autor definiu os pobres moradores), é um homem de avareza inconformável, que move céus e terras para se tornar um capitalista cheio de requintes como o seu vizinho Miranda, um refinado gorducho muito bem endinheirado. Gosto dele, o João. Pode-se dizer que é um gostar praticamente injustificável, pois o sujeito é invejoso, oportunista, falacioso, enganador, mau caráter, inescrupuloso e doentemente ávido por dinheiro. Pois é, maior um-sete-um esse cara. O sujeitinho, todavia, não é totalmente desmerecido de virtudes; João Romão é ambicioso, sagaz e astuto como uma cobra e incrivelmente audacioso. Precisa ter muita fibra e sangue frio para ganhar a vida com esses trejeitos de tinhoso, sem pesar a consciência quando deita a cabeça à noite. Grande João! Calhorda de primeiríssima!Agora, em matéria de calhordas, Jerônimo se equipara. O português tristonho que canta as saudades de sua terra ao lado da infeliz esposa, Piedade, sofre uma monstruosa transformação. Aliás, fenômeno típico no livro - a premissa que o autor naturalista nos traz é que o ambiente transforma o ser, hostiliza, corrompe. Pois Jerônimo era um homem digníssimo (argh, essa minha mania de superlativo que peguei do José Dias!), pelo menos até ser vítima da luxúria e tentação que conheceu nas quentes terras estrangeiras. João Romão e Jerônimo são minhas personagens de destaque, mas você também vai conhecer Rita Baiana (uma sensual e cativante mulata), Bertoleza (uma maltratada ex-escrava que se mantém em segundo plano durante boa parte do enredo, para finalmente ganhar o papel principal no final do livro), Pombinha (a inocente flor que desabrocha), a coitada da Piedade (sofre mais que baleia encalhada na praia), a Bruxa (protagonista da minha cena favorita, quando justifica a razão pela qual a chamam de bruxa) e tantas outras figuras, uma mais corrompida que a outra.Por fim, eu sinceramente espero que essa resenha não caia perante os olhos de algum crítico literário ou educador da área. Digo, quem sou eu para falar de Aluísio Azevedo, com toda essa propriedade? Pois já vai aqui a minha defesa: faz mal nenhum um olhar mais inocente e eu reconheço, sim, minha posição como leiga. Leiga pelo menos por enquanto, né?
Resumos Relacionados
- O Cortiço
- O Cortiço
- O CortiÇo - Resumo
- O Cortiço
- O Cortiço
|
|