As Tribos do Mal
(Helena Salem)
O temor de uma nova onda nazi-fascista
possível diante do sucesso eleitorais de partidos de extrema direita na Europa,
em meados dos anos 90, embasa a elaboração deste livro. A autora recorre à
Idade Média, buscando no passado, a justificativa para o preconceito atual e
sua utilização como instrumento fornecedor de governabilidade aos conservadores
extremados de todos os tempos.
O preconceito religioso oficial começa
quando a Igreja medieval condena a cobrança de juros (pois “o tempo é de
Deus”). Não consegue estender esta proibição aos judeus, forçados a exercer o
comércio por serem proibidos de possuir terras. A intensa circulação de
viajantes comerciantes judeus, levados ao empreendedorismo torna-os cultos, o
que acentua sobre eles um ar de ameaça à primazia cristã como detentora do
conhecimento. A perseguição aos judeus acontece não apenas como fator de
prevenção diante desta ameaça. Serve também de ponto de união em torno de um
inimigo comum, em delicados momentos em que a própria unidade religiosa
torna-se uma questão delicada. Nesse sentido, a autora cita Lutero, fundador da
Reforma Protestante, como exemplo, este que após lançar um tratado defendendo
os judeus, escreveu um manifesto violentamente crítico a eles, onde inclusive faz
uso de termos chulos.
Logo, não se poderia estranhar o uso
dos judeus como bode expiatório por Hitler na Alemanha nazista. Esse foi outro
exemplo da eficácia da malfadada prática de aglutinar nacionalistas e
conservadores em torno de um comando único, perseguindo uma minoria
pré-determinada. Afinal os nazistas conseguiram lutar para dominar o mundo,
devolvendo orgulho à parcela de alemães que se sentiam ainda derrotados na
Primeira Grande Guerra.
A autora cita a campanha do petróleo
de Getúlio Vargas (anos 50) e a febre anti-comunista no Brasil do início dos
anos 60, como provas de que, mesmo depois de Hitler, o nacionalismo fanático
não morreu. E, ao contrário do que se imagina, à essa tendência política
perigosa interessa sim, a proliferação de grupos urbanos violentos (as tribos do mal, do título da obra).
Assim como um dia, os nazistas subdivididos se uniram e tomaram o poder na
Alemanha, esses grupos, seguindo o curso natural esperado, uniriam-se
conseguindo representação política obviamente sob a tutela da extrema-direita .
Eis o temor citado no início desta resenha.
O mundo se redesenhou após Hitler. A
revolta diante da nova ordem mundial contrapondo EUA e URSS como os novos donos
do mundo fornece estímulo à onda de indignação que toma conta da sociedade a
partir dos anos 50 e sobretudo nos anos 60. Surgem grupos decididos a expor
claramente que não se alinhavam à tal bipolaridade, demonstrando independência.
Nem todos pregariam o pacifismo como os hippies.
A partir da década de 70 se espalham
pelo mundo, os punks e skinheads (neonazistas), grupos da mesma
origem que se odeiam sem nem mesmo saberem porquê. Extremamente violentos e
contraditórios. Frutos da depressão coletiva de uma parcela social,
ironicamente reconhecem que se o tempo voltasse, sendo minoria, seriam
perseguidos eles próprios. Ignoram que são massa de manobra, rendendo lucros a
atividades de fundo cultural - grupos de
rock como Ramones e Sex Pistols, e filmes como o popular Laranja Mecânica de 1971 - que exploram
sua imagem, sem se importar quando difundem seus nefastos ideais.
A autora cita 12 grupos neo-nazistas então
em atividade no Brasil. Informa suas características e localização de seus
membros, em sua maioria radicados em São Paulo e no sul do país. Estes perseguem
nordestinos e homossexuais, considerados responsáveis pelo atraso econômico,
sem poupar de sua exclusão negros e judeus. Alguns nomes ligados à direção desses
grupos são dignos de observação como o advogado Anésio de Lara Campos Jr. (meio-irmão
de Eduardo Suplicy do PT) e o padre Adão da Igreja Brasileira da Zona Leste de
São Paulo. Enfatiza a ligação de um destes grupos (White Power) com Armando
Zanine Jr., político do PNRB,(Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro).
No caso, trata-se de um partido inexpressivo, porém, a obra atenta ao avanço nos
anos 90, de partidos nacionalistas extremados em vários países europeus, alguns
destes conhecidos como tradicionalmente liberais, como França e Inglaterra.
Aqui, os nossos neonazistas, ao
perseguir nordestinos (migrantes) copiam os europeus que culpam minorias como
turcos e norte-africanos (também migrantes) pela crise.
Hoje, mais de dez anos após a
publicação deste livro, o que vemos no mundo é um avanço da esquerda inclusive
no Brasil. Entretanto o preconceito segue fortalecido por atentados contra
minorias praticados pelas tribos citadas. E a punição, ao menos em nosso país,
continua branda a este tipo de crime.
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