Copacabana me Engana
()
Sinopse e
comentário. Drama. Aos 21 anos,
Marquinhos é um rapaz de classe média sem perspectivas de vida. Morando com os
pais e com o irmão mais velho, não quer nada com trabalho ou estudos, e passa o
dia com os amigos, bebendo e procurando diversão às custas dos outros. A
possibilidade de mudança surge quando ele começa a namorar Irene, mulher madura
e moradora do prédio vizinho, que Marquinhos vivia observando da janela, de
binóculos. Separada de um milionário que volta e meia tenta reconquistá-la,
Irene é uma mulher sozinha e sem rumos, que a princípio parece identificar-se
com o jovem que veio ao seu encontro.
Realizado no auge da ditadura militar, este filme é
considerado uma das últimas manifestações de inteligência do cinema brasileiro
antes do ciclo das pornochanchadas. Estreia do diretor Antônio Carlos Fontoura
(que depois realizaria filmes como A
Rainha Diaba e Espelho de Carne,
e que aqui faz uma ponta, saindo do cinema), Copacabana me Engana (Brasil, 1968)é um retrato sutil, e mesmo romântico, do
vazio ideológico e existencial de uma classe média voltada para o consumismo e
o individualismo, e incapaz de formular ou executar qualquer projeto social,
quedando-se insatisfeita com sua condição mas sem iniciativa para modificá-la.
Mimado pela mãe e hostilizado pelo pai (que sempre o
compara com o irmão que trabalha), Marquinhos chega diariamente bêbado em casa,
dorme até tarde e gasta o tempo com futilidades, quando não com violência. A
cena onde os rapazes arrancam do carro e agridem um casal de namorados remete
de imediato a Laranja Mecânica, de
Stanley Kubrick, com temática semelhante mas diferente abordagem. Em ambos os
casos, porém, o horizonte urbano e nebuloso se repete, aqui numa interessante
fotografia em preto-e-branco (opção que, à época, foi mais econômica do que
estética) a cargo de Affonso Beato, que ora utiliza uma iluminação estourada e
ora cria um momento fortemente poético quando a câmera focaliza a janela de
Irene e vai afastando-se, até torná-la um ponto luminoso no meio da escuridão.
A cena parece indicar a distância que vai se interpondo entre o protagonista e
aquilo que seria a luz no fim de seu túnel, depois da inesperada visão do
apartamento vizinho.
Trata-se de filme muito bem narrado. A apresentação
do casal, depois que se torna casal, é feita através de falas fragmentadas,
trechos e mesmo olhares para a câmera, que revelam de forma concisa e dinâmica
tanto a sua história quanto o seu pensamento. O eficaz recurso, utilizado
também para mostrar os momentos de ternura e as brigas entre Marquinhos e
Irene, funciona graças a uma arrojada montagem (assinada por Mário Carneiro) e
pelo desempenho dos atores, constituído em sua maior parte de improvisos. O
elenco é, aliás, um dos pontos altos do filme. Atores coadjuvantes como Joel
Barcelos, Ênio Santos e Licia Magno enchem a tela com suas presenças: enquanto
o primeiro faz um jovem debochado e rebelde, os outros dois exprimem a
fragilidade familiar oculta nas aparências, fracassando tanto na educação dos
filhos quanto no próprio relacionamento, visto na descoberta do adultério na
Rua do Ouvidor e no representativo diálogo final, à mesa. Mas deve-se destacar
a sutil composição do personagem de Paulo Gracindo, capaz de descrever com
poucas falas e olhares certeiros a relação mantida com Irene. Destaque ainda
para sequências como a da entrada dos rapazes numa reunião sindicalista, para a
trilha sonora cheia de ícones do tropicalismo e para o desafio que é, para o
espectador que conhece Copacabana, identificar as locações.
Resumos Relacionados
- De Amor E De Sombra
- Separações
- Nanocontagem
- 9 Songs - 9 Canções
- A Lingua De Eulalia
|
|