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Brando: Canções que minha mãe me ensinou
(Marlon Brando e Robert Lindsey)

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Ator genial. Rebelde. Símbolo sexual. Conquistador.
Excêntrico. Cínico. Ativista social. Louco. Criador de caso. Ícone. Pode-se
dizer muita coisa de Marlon Brando, e quase tudo será verdade. O ator que
revolucionou a maneira de interpretar em Hollywood era dessas pessoas
inquietas, intensas, quase sempre insatisfeitas. Mas que soube aproveitar a vida. Dele falou-se tanto que, durante anos, nenhuma entrevista foi concedida pelo ator, autoexilado no arquipélago que ele
comprou, no Taiti. Aos 70 anos, porém, cansado das mentiras que, segundo ele,
viviam sendo publicadas a seu respeito, e motivado pelo dinheiro oferecido
pelos editores, Brando concordou em juntar-se ao jornalista/escritor Robert
Lindsey e dar a sua versão da história.



Trata-se de deliciosa leitura. Com exceção dos casamentos e dos filhos, Brando falou de tudo. De infância, traumas, vergonhas, erros, acertos e arrependimentos. Em 370 páginas , fala ainda de política, filosofia e
psicologia. E, principalmente, daquilo que o consagrou: cinema. De técnicas
de atuação a curiosidades de bastidores, do processo de criação de um personagem
a romances com estrelas e fãs (algumas, ocultando os nomes), nada parece ter
ficado de fora deste Brando:
Canções que minha mãe me ensinou (Ed.
Siciliano, 1994, tradução de J. E. Smith Caldas).



Nascido em 1924, numa propriedade rural no Nebraska,
Brando era o caçula, e único homem, de 3 filhos. O pai caixeiro viajante vivia
pelos bares com prostitutas, e a mãe alcoólatra disfarçava o vício dizendo
que aquelas garrafas eram “remédio para menopausa”. Carente do amor dos
pais, o menino se apaixonaria pela babá de 18 anos, considerando-se abandonado
quando ela foi embora. Com a mãe (que reunia a família em torno do
piano e cantava) o garoto aprenderia o gosto pela arte e o respeito pela
natureza e pelos outros, a ponto de surpreender os pais em certa ocasião,
levando para casa uma mulher bêbada que encontrara caída na rua, achando que
ela estava doente e precisando de cuidados.



Na escola não era bom aluno. Resistente à
autoridade, preferia enturmar-se com os marginalizados. O pai o
negligenciava, dizendo que o moleque não fazia nada direito, e, como a
todos, tentava controlá-lo. A carência afetiva, a desestruturação familiar e a
pressão paterna resultaram ainda numa crise de gagueira, necessitando terapia
fonoaudiológica. Brando tanto aprontou, na escola e fora dela, que o pai o pôs
num colégio militar.



Entre os cadetes, até o badalo do sino da igreja ele roubou. Nas férias viajava clandestinamente em trens de carga e dormia em
acampamentos de mendigos. Mas foi no quartel que começou a dar sinais de
capacidade de liderança, e seu interesse pela leitura o levou a descobrir
Shakespeare e a Revista Geográfica Universal. Também foi nesse período que um
professor convidou-o para um teste numa peça. Expulso da escola, foi morar com
a irmã, em Nova
York. Trabalhou como ascensorista, garçom, cozinheiro, até
resolver ser ator – já que um dos únicos elogios que recebera deveu-se a sua
atuação na escola.



Foi um período bom para ele, que, mesmo sem entender a
vida, estava “vivendo como um louco”. Encantou-se com a música afrocubana, fez
amigos na comunidade judaica que o iniciaram numa atividade intelectual e
política, e perdeu a virgindade. No teatro, foi aluno de Stella Adler, cujo
método se opunha às técnicas tradicionais de interpretação, onde a voz
empostada e os gestos excessivos eram substituídos pela espontaneidade do ator,
gerando maior identificação com a plateia. Com Adler, Brando faria algumas
peças, até Um
Bonde Chamado Desejo lhe render um convite para Hollywood.



Não pararia mais. Mesmo recusando o modelo de contrato da
época, que prendia o ator durante 8 anos ao estúdio – Brando só trabalhava por
filme –, ele faria Espíritos
Indômitos, Uma Rua Chamada
Pecado (versão
cinematográfica de Um Bonde...), Viva Zapata!, Júlio César, até explodir em O Selvagem, montado numa moto,
vestindo jeans e influenciando uma geração. Retornaria a trabalhar com Elia Kazan (seu professor no teatro, e diretor de Uma Rua...) em Sindicato de Ladrões, que lhe
rendeu um Oscar, e em Vidas
Amargas. No meio tempo, cometeu todas as loucuras sexuais possíveis.
Adorava mulheres casadas e não tinha interesse em romance. Precisou
fugir pela janela e inventar desculpas estapafúrdias para amigos traídos, e
também foi perseguido por fãs apaixonadas. Paralelamente, sofreu de ansiedade e
depressão, recorrendo à psiquiatria. Viajou o mundo em campanha com entidades
pró-judaicas, depois ajudou a UNICEF, realizou
um documentário na Índia, engajou-se na defesa dos indígenas
norteamericanos e, em 1955, criou a Pennebaker Productions, para realizar
filmes de temática social. Procurava algo que desse sentido à sua vida, que
considerava, apesar de tudo, vazia.



Fez filmes por dinheiro, por amizade, ou por convicção
política, como Queimada! (que considera a sua melhor atuação),
o que o distanciou do grande público. Isso até O Poderoso Chefão,
que lhe rendeu o segundo Oscar (recusado). Veio então O Último Tango em Paris, causa de tanto desgaste emocional que Brando prometera jamais se entregar tanto em um trabalho. Apocalypse Now seria seu último papel de expressão.
Após ele, Brando, que começara a engordar, faria papeis menores ou
participações especiais em filmes como Um
Novato na Máfia ou Superman
– O Filme, e mesmo assim apenas quando precisando de dinheiro.


Brando foi um ser humano como poucos, que soube aproveitar os traumas da infância. O abandono dos pais (e da babá) lhe trariam uma permanente
necessidade de autoafirmação, de receber elogios e de ser amado. Daí viriam a
competitividade com homens que parecessem mais viris do que ele, a falta de
confiança nas mulheres (de quem usou e abusou) e a curiosidade quanto ao ser
humano. Brando estava sempre estudando pessoas, seja na frente das câmeras (não
via a interpretação como arte, mas um emprego igual a qualquer outro), nas
páginas de livros ou no trato pessoal. Ao fim da vida, embora aparentasse algum
cansaço e desilusão, ele garantia que, graças à terapia e à meditação,
conseguiu enfim ajustar as contas com os fantasmas internos. Para ele, aqueles
momentos de paz em sua ilha eram mais felizes do que todos os anos em
Hollywood.



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