Pobreza
(sidnei)
caracterizada pela posse de um capital distintivo ( no caso, ser
professora num município pobre). Isso pode ser exemplificado
tanto no fato de as professoras solteiras, sobretudo aquelas em
inicio de carreira serem cortejadas pela população masculina
(as professoras revelaram que os rapazes solteiros dos locais de
suas escolas consideravam-nas ‘bons- partidos”, mirando-as a
partir de suas estratégias matrimoniais), como em todos os
aparentemente minúsculos e imperceptíveis gestos de
deferência destinados a elas pela população (“me sinto
valorizada pelos pais dos meus alunos”; “aquele abraço
espontâneo e o sorriso largo que vejo em seu rostos todas as
manhãs”; “ somos tratadas com muito carinho, respeito e
admiração por parte dos moradores das comunidades, e isso
nos gratifica e estimula a enfrentar os problemas cotidianos”)
(PEREIRA; CONCEIÇÃO & ANDRADE, 2006, p.10)
Para os autores, mesmo num universo aparentemente homogêneo, há hierarquia
de funções, o que reduz os créditos simbólicos aos postos considerados mais baixos –
segundo a percepção dos agentes, por exemplo, as professoras da educação infantil ou
da creche. O que as mantém na profissão segundo Pereira; Conceição & Andrade (2006) é
a “adesão manifesta” ao carisma profissional, obtendo uma atitude antieconômica dos
agentes, recusando o cálculo exclusivamente econômico. Coagidas pelas urgências, elas
encontram no carisma da função a fonte de motivos para permanecer na profissão. No
espaço analisado pelos autores o carisma define-se como propriedade simbólica central
do magistério. No sentido empregado por Weber (apud Pereira; Conceição & Andrade,
2006) “onde existe, uma ‘vocação’”, no sentido enfático da palavra, constitui “missão”
ou “tarefa íntima”.
Segundo Pereira; Conceição & Andrade (2006) o carisma é propriedade extracotidiana
para os agentes no topo dos campos simbólicos (autores, grandes acadêmicos,
escritores de renome, entre outros) e é missão para os alocados nos postos mais baixos
das escalas intelectuais (professores de séries iniciais, alfabetizadores de adultos).
Também segundo Weber (apud Pereira; Conceição & Andrade, 2006) é uma atitude antieconômica,
não porque o agente carismático recuse retornos materiais, mas porque
recusa toda a atitude econômica racional, a perseguição exclusiva de fins estritamente
econômicos:
O carisma é o centro de toda uma lógica da prática simbólica.
Constitui uma espécie de operador prático que transforma os
déficits (de posição, de localização, etc) em rendimentos
simbólicos pessoais. O agente carismático sente compensações
íntimas mesmo nas tarefas socialmente mais desprezadas. O
carisma supre o agente de imaginação autojustificadora: essa
pode ser interpretada tanto como fonte de sentido quanto de
eufemismo. É fonte de sentido, pois é da vocação que o agente
do magistério extrai a sua libido profissional. Também opera
como eufemização das mazelas crônicas de uma profissão
dominada, situada nos níveis mais baixos das hierarquias
simbólicas. Ao suportar o dia-a-dia de uma profissão que
promete muito e cumpre pouco, o agente do magistério,
ocupante de postos mais humildes nas hierarquias funcionais,
encontra no carisma um “fundamento cotidiano duradouro.
(PEREIRA; CONCEIÇÃO & ANDRADE, 2006, p.14)
Segundo Bourdieu & Champagne (1998), os “excluídos do interior” do sistema
educacional compõem o conjunto dos que descobrem que não têm as credenciais
suficientes para ter acesso a posições sociais mais vantajosas. Segundo Pereira et al
(2006), as professoras situadas nos postos mais baixos são os excluídos do interior do
universo da produção simbólica. Fervorosas da democratização do ensino são as
primeiras vítimas, pois perdem o valor distintivo de suas credenciais. Desta forma, a
existência de grande volume de certificados ou diplomas distancia as professoras da
distinção.
É neste sentido que o magistério e a distinção estão propensos à reafirmação
constante de sua legitimidade, através de reconhecimento construído por premiações e
menções honrosas – mote central desta pesquisa.
2. Magistério e Meritocracia
Em setembro de 2008 a revista VEJA1 em edição especial pelos seus 40 anos
reuniu especialistas em seis áreas. Com o título “O Brasil que queremos ser” o debate
deu origem a quarenta propostas entre: Educação, Meio Ambiente, Economia,
Imprensa, Democracia, Raça e Pobreza e Megacidades. Entre os convidados ilustres
estavam lideranças políticas nacionais – o deputado Ciro Gomes, os governadores
Aécio Neves (Estado de Minas Gerais) e José Serra (Estado de São Paulo) e a ministra
Dilma Rousseff, além do vice-presidente da República, José Alencar, que discursou,
Garibaldi Alves, presidente do Senado, cinco ministros de estado, cinco governadores,
líderes das maiores empresas brasileiras, publicitários e acadêmicos somando 500
convidados.
Na mesa de discussões sobre educação estavam presentes o Ministro da
Educação Fernando Haddad, a Secretária de Educação do Estado de São Paulo Maria
1 A edição está disponível on-line pelo site http://veja.abril.com.br/100908/p_110.shtml. A consulta foi
feita em 28 de janeiro de 2009.
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