Simão do Deserto
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Sinopse. Drama surrealista/religioso. Século V. Postado há seis
anos, seis semanas e seis dias no alto de uma coluna no meio do deserto na
Síria, alimentando-se apenas de folhas de alface e apoiado em apenas um pé, o
profeta Simão é um homem cuja fé é frequentemente colocada à prova. Embora
realize milagres para as multidões que vêm vê-lo, tem frequentes distúrbios de
memória e sofre a todo instante as tentações do demônio, que ora lhe surge como
uma mulher vesga, ora como uma criança recitando em latim, ora possuindo um dos
padres, ora como o próprio Jesus Cristo. Em sua última visita, o demônio
promete levar Simão a uma viagem da qual ele jamais se esquecerá.
Comentário. Logo no início de Simão
do Deserto (Simón del Desierto,
México, 1965), o protagonista realiza o milagre de devolver a um fiel as mãos
cortadas como punição por roubo. No lugar de agradecer, o ladrão arrasta a
mulher e a filha para casa, alegando muito trabalho (dá, inclusive, um cascudo
na criança, que pergunta se aquelas mãos são as mesmas que haviam sido cortadas).
Em seguida, um anão pede ao profeta que abençoe a sua cabra, e fica acariciando
libidinosamente as tetas do animal.
O asco então manifestado por
Simão para com o ser humano (sentimento que estende à sua própria pessoa, que
considera indigna) parece reproduzir a visão do cineasta Luis Buñuel. Em mais
um filme com temática religiosa, Buñuel ataca com feroz imaginação e sarcasmo a
hipocrisia da sociedade cristã, a falta de sentido nas relações humanas – que
evolui sabe-se lá pra onde e as contradições existentes em cada um de nós.
Realizado depois do clássico O Anjo Exterminador, Simão do Deserto foi prejudicado pelas
brigas do diretor com o produtor Gustavo Alatriste (marido da protagonista
Silvia Pinal, também presente em
O Anjo...), que
cortou recursos da produção (inclusive um rolo inteiro de película) a ponto de
a produção ficar reduzida a um média metragem. Buñuel teria dito que, se não
tivesse de renunciar a tanta coisa, teria feito um filme excepcional, talvez a
sua obra prima.
Ainda assim, a economia de
equipamentos, cenários e extras não pareceu afetar a genialidade do diretor e
de seus colaboradores. Vê-se que, apesar da simplicidade narrativa, o quanto a
fotografia em preto e branco (opção artística, pois o filme colorido já
existia), assinada por Gabriel Figueroa, é feliz em obter imagens e ângulos
originais, adequando-se ao simbolismo proposto pelo cineasta. Há momentos
curiosos como as alfinetadas no jovem e delicado Irmão Matias, de quem é
chamada a atenção duas vezes (pela limpeza excessiva das vestes e pela ausência
de barba); ou no momento em que, diante das acusações ao filho, a mãe de Simão
cobre com terra um formigueiro; e, principalmente, quando um padre tenta
discutir a propriedade com Simão. “Não te entendo”, o profeta responde. “Falamos
linguagens diferentes.”
São pequenas e variadas
observações ao longo do filme, que certamente serão melhor apreciadas ao
assisti-lo novamente. Ao final, após o impacto de uma absurda surpresa, o
espectador certamente fica com a mesma impressão do protagonista. Como
curiosidade, há uma fala de Simão que foi acrescentada por conta das limitações
impostas pela produção. Buñuel queria uma cena com a barba do profeta cheia de
moscas, e Alatriste recusou. Ao anoitecer, Simão olha a própria barba e se
pergunta: “Não há moscas?”
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