Histórias da Terra e do Mar
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Hans morava no interior da ilha de Vig. Porém, isso não impedia que ele fosse habitualmente até a vila.Sören, era nome do pai de Hans. Não dado a muita comunicação, tinha-se refugiado no interior da ilha, por que o mar roubara a vida dos seus dois irmãos.Maria, na mãe de Hans e Cristina, a sua irmã, formavam o seu primeiro círculo feminino na sua vida.O desejo de Hans, ser marinheiro, impôs-se aos pedidos, súplicas e rogos do pai que queria mandá-lo estudar para Copenhaga.O amor pelo mar fez com que Hans, ainda na sua adolescência, fugisse num navio vindo da Noruega «Angus», alistado como grumete.Após uma discussão com capitão do barco, onde Hans foi chicoteado diante dos outros marinheiros, decidiu abandonar o navio.Perambulou pelas ruas e dormiu aqui e ali. Sentiu na primeira pessoa as dificuldades na comunicação, porque desconhecia a língua que os demais falavam.No passar dos dias, um inglês, Hoyle, encontrou-o a chorar. Então, recolheu-o para a sua quinta.Este homem, Hoyle, era armador e negociava no transporte de vinho para os países do Norte.Afortunadamente, Hoyle tratou de Hans como um filho adoptivo e como empregado. E assim passou a sua adolescência.Um dia, escreveu para casa, suplicava o perdão e mencionava as razões, contudo, a resposta da parte da mãe trazia consigo a mensagem, que se volta-se a Vig não seria recebido pelo pai.O imperdoável tempo, passou pelo Hans, que agora era um adulto que tinha aprendido a arte de navegar e comerciar.Aos 21 anos, Hans era o capitão de um navio de Hoyle e o homem da sua confiança nos negócios.Entretanto, Hoyle ficou cego e então, propôs a Hans sociedade nos seus negócios. Esta decisão trouxe a Hans uma permanência em terra, muito embora, o seu desejo fosse sempre navegar.Por esta altura, voltou a escrever à mãe a contar-lhe o seu novo modo de viver, porém obteve a mesma resposta.Muito bem sucedido nos negócios – Hans – casou com a filha de um general liberal de grande abastança. Com o falecimento de Hoyle, houve a oportunidade de Hans fundar a sua própria firma. A sua honestidade era respeitada e aclamada.O nascimento do primeiro filho foi a ocasião apropriada para colocar o nome do seu pai – Sören. Infelizmente, o recém-nascido veio a falecer.No ano que se seguiu, nasceu o segundo filho e Hans tentou mais uma vez a aproximação dos pais, todavia, a resposta foi a mesma.O nascimento de três rapazes e duas raparigas aumentou a família de Hans.E novamente voltou ao mar. Apercebeu-se, na realidade, que o seu corpo mudara, o pensamento alterara e de certa forma, entendia, agora, que fuga de Vig tinha sido inútil.Terrivelmente, a mãe de Hans veio a falecer e por isso, Hans escreveu ao pai. A resposta nunca chegou. Portanto, Hans entendeu que jamais regressaria a Vig.No percurso da vida, Hans, veio a ter netos que brincavam na luxuosa quinta que mandara fazer. A casa de dimensões incomensuráveis servia também para os jantares com a família, os amigos negociantes e outros.E de repente, compreendeu que o relógio da vida não pára e que ele estava prostrado a rotinas como tanto outros, no entanto, o pensamento de que o mar era o caminho para a sua casa – Vig – inquietava-o.A uma dada altura, deu por si quase irreconhecível, estava velho e com isso, veio a doença que não o enganou, pois sabia que ia morrer. E assim, fez um pedido invulgar aos filhos. Que construíssem um navio naufragado sobre a sua sepultura e mais não disse.Aquando da sua morte, o pedido deveras estranho, foi cumprido.
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